Aquele que seria o melhor jogo da série até o momento, não fossem algumas falhas críticas. A Experiência Ultima que Garriot foi polindo game a game atinge aqui toda sua plenitude, com um mundo de fantasia imenso, detalhado, vivo, lotado de várias histórias (no plural) interessantes. É um mundo em que você consegue se imergir completamente e perder horas a fio desvendando segredos, ouvindo fofocas dos NPCs e até fazendo atividades aparentemente triviais mas que colaboram com a fantasia como jogar no cassino ou assar o seu próprio pão.

Infelizmente, toda essa liberdade nem sempre consegue ser acomodada pela quest principal. Se o mundo convida você a fazer o que quiser, quando quiser, onde quiser, a quest principal espera que você siga uma determinada sequência de eventos e às vezes ou não sabe o que fazer quando você comete uma quebra de sequência ou vai se recusar a te deixar explorar outras quests ou regiões até você cumprir certos requisitos. Ultima VI, que tinha um world design similar ao de VII mas com escopo menor, conseguiu contornar isso muito bem ao fazer com que a quest principal fosse dividida em objetivos múltiplos que podiam ser cumpridos em qualquer ordem. A abordagem de U7 é mais linear nesse aspecto, o que vai de encontro com seu world design mais expansivo e não-linear do que nunca.

Mas essa não é a "falha crítica" de U7. Sua grande falha é o uso tanto de um Deus Ex Machina no terço final do game que basicamente tira todo seu senso de liberdade e agência te dizendo exatamente o que fazer, quanto de um Diabolus Ex Machina, um vilão literalmente fora do contexto narrativo que é a fonte de todos os problemas. Esse último aspecto, em especial, não é contrário apenas ao world/quest design de U7: ele antitético de toda a série desde U4, que conseguiu evitar, desconstruir e até inverter o tropo do "Big Bad" com maestria através de seu foco nas virtudes e filosofias que regem seus mundos fantasiosos. Ultima não precisa de um Big Bad; e U7, em específico, já apresenta todos os elementos para fazer uma fascinante desconstrução do mundo de Ultima construído nos jogos anteriores sem a necessidade do Guardião como a grande influência maligna por trás das mazelas sociais de um mundo que está (literalmente) perdendo sua magia.

Dito isso, ainda há muito o que se gostar em U7. Em muitos de seus aspectos, ele ainda é um jogo inigualável. A única série que tenta fazer uma fantasia digital tão detalhada e imersiva quanto é The Elder Scrolls, que, Morrowind à parte e sem querer tirar seus méritos, tem que sofrer com a incompetência narrativa e abismal QA da Bethesda. U7 continua tão essencial para os fãs de RPG quanto em 1992.

Reviewed on Apr 17, 2022


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