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“War has changed."

A icônica frase de Metal Gear Solid 4 é trucidada pela existência de Modern Warfare. Guerras em jogos eletrônicos são quase imutáveis. Os estímulos, principalmente no cenário mainstream, são sempre os mesmos. Andar, atirar, e matar. Alguns jogos conseguem uma certa eficiência em contornar com elementos narrativos uma possível glamourização de violência, mas são poucos. Geralmente se perdem ao ignorar que a jogabilidade faz parte da narrativa em um vídeo game. Exemplo, em The Last of Us você precisa se importar com a violência do jogo mesmo quando mecanicamente o mesmo estrutura o jogador como um homicida. Não se deve analisar um jogo pensando apenas no que ele diz em texto, o coração da narrativa existe no gameplay.

O último Modern Warfare sabe disso. O jogo é um espetáculo de violência. Honesto e direto. Não existe qualquer tentativa de mediação moral na estória, ele é um produto refinado para ter a mais estimulante experiência de guerra, estruturada em ritmo de filme de ação. Tudo é rápido e visualmente instigante. O peso moral do conflito não existe em cutscenes, ele é reflexo da ação desenfreada e ágil. No meio de um tiroteio com inimigos o jogador pode acabar atirando em um civil por acidente, o peso existe, mas é preciso esquecer dele rapidamente e continuar a “robótica” atividade de andar, mirar e matar. Remete a Fervura Máxima do John Woo, na cena do plano-sequência com uma absurda troca de tiros dentro de um hospital, quando o personagem do Tony Leung atira em um policial sem querer e o protagonista interpretado por Chow Yun Fat tenta o convencer que isso não aconteceu. Quando a vida está em jogo, a discussão moral acontece em segundos e a luta pela sobrevivência precisa continuar. Impossível ser mais honesto como proposta.


Para o bem e para o mal, Call Of Duty Modern Warfare é uma bela experiência de fps em combate urbano, inconsequente e mecanicamente refinado. Longe das nuances mais complexas dos primeiros Modern Warfare, o jogo abraça inconsequência em busca de unidade e alcança, mas falta um nível na profundidade de No Russian para realmente ter um debate mais instigante sobre formato.