(ALERTA!TEXTO GRANDE PRA CARALHO)Provavelmente o Action RPG mais distinto que já joguei e uma aventura muito peculiar. Dark Souls 3 testou continuamente minha paciência a cada hora de sua duração, mas me intrigou e me agarrou com seu mundo rico, combate metódico e ambientação atmosférica e sombria.
O que mais chama a atenção na série é a sua proposta diferenciada de desafio acentuado, orientada a um combate metódico que incorpora o gerenciamento de recursos e o pensamento otimizado como prioridade para sua realização diante a variedade de desafios que são postos frente ao jogador, na forma de ameaças como inimigos e perigos proporcionados pelo cenário, como buracos e armadilhas e espaços apertados que podem limitar suas capacidades ofensivas defletindo armas que precisam de espaço para ser usadas, exigindo que o jogador esteja sempre atento principalmente a estes três fatores: seu personagem, seus inimigos e o ambiente que o circunda, formulando esb tratégias e métodos de combate com base nas informações que o jogo oferece e gerenciando seus recursos, tanto os regenerativos, como por exemplo a barra de estamina, quanto os temporariamente finitos como os frascos de esthus que recuperam sua barra de HP.
Muito se fala que o desafio aqui presente não é para qualquer um, mas eu discordo. Dark Souls é sim desafiador, mas é relativamente simples. Você tem dois botões de ataque, uma esquiva, algumas habilidades únicas de acordo com o armamento e algumas opções de defesa. Uma barra de vida, uma barra de mana e uma barra de estamina que é consumida para a efetuação das ações de combate e locomoção e alguns frascos de cura. Existem sistemas complexos que sublinham o sistema de progressão e combate, como a grande variedade de magias e as possibilidades de construção de personagem, mas com paciência e dedicação, qualquer jogador familiarizado com um controle e movimentação em três dimensões, que se disponha ao incessante aprendizado exigido pelo combate, consegue sobrepujar os desafios que lhe forem impostos, e que se resumem, basicamente, a bater e rolar no momento certo. Não muito mais que isso, na maioria das vezes. É isso na superfície, bater e rolar. Mas a profundidade edstá no gerenciamento dos recursos, no manejo das opções, no entendimento do sistema de progressão e por aí vai. A experiência de combate é muito rica, simples, mas exigente. E aqueles que se colocarem a disposição para aprender a apreciá-la, vão ter uma aventura única e satisfatória, onde o triunfo sob cada desafio pode conferir desde a sensação mais forte de poder à um alívio diminuto depois de tanto bater a cabeça contra a parede. O nível de satisfação de cada um pode variar e nem todos os desafios são satisfatórios, mas uma coisa é certa: você sentirá algo ao sobrepujá-los.
Aqueles que embarcarem nesse ponto da série, já no seu terceiro título, vão ver tudo isso aqui, expresso em cada segundo da experiência. Um jogo desafiador e único, com áreas belas e brilhantemente arquitetadas.
A ambientação de Dark Souls 3 é um dos seus aspectos mais intrigantes que sugam o jogador pra dentro daquele mundo esquisito. Constrói, através da ambientação, localidades distintas, mas que ainda passam a sensação de um mundo conectado e orgânico, com uma arquitetura gótica deslumbrante que parece ter saído diretamente do século XV: castelos enormes, masmorras claustrofóbicas e pântanos infestados, com a maioria das áreas sendo conectadas de maneira muito inteligente por um level design esperto e pragmático, não só coeso no que diz respeito à sua conectividade, mas eficaz quando se trata de segredos, atalhos, passagens e itens importantes escondidos.
Nenhum dos monstros passa a sensação de que não devia estar onde está. Você acha bruxas e mortos vivos malucos em povoados distantes, cavaleiros e soldados dentro de castelos, ratazanas enormes dentro de esgotos, com o jogo apresentando de muito boa forma seu bestiário rico que oferece visuais interessantes pra monstros que já habitam nosso imaginário, como dragões e mortos vivos, sem deixar de apresentar uma dose considerável de criaturas originais que parecem ter saído de um jogo de terror.
As criaturas, os ambientes, a arquitetura, tudo é ligado por um level design muito inteligente. Inteligente, mas nem sempre o mais intuitivo do mundo. Guia bem o jogador a respeito de onde ele deve ir em seguida (na maioria das vezes, mas não sem seus momentos sem sentido onde a progressão fica detrás de exigências específicas sem dicas significativas que deixam o jogador a deriva em momentos salpicados), mas esconde bem até demais itens, equipamentos, áreas secretas que podem deixá-lo sem o contexto necessário pro entendimento completo daquele mundo, que mesmo sendo interessante, já é prejudicado por uma narrativa falha.
A falta de música pode ser estranha no começo, mas é proposital para realçar ainda mais a atmosfera amedrontadora onde um monstro à espreita pode te surpreender numa explosão de tensão em meio ao silêncio. Essa ausência também serve o propósito de dar uma importância maior aos encontros com chefes, que tem cada um uma faixa própria, mas que soam todas parecidas sem composições muito diferentes de uma pra outra, podendo todas elas soarem como a mesma progressão de cordas de uma orquestra bem grande com vocais de uma ópera cantada em latim. Mesmo não sendo muito distintas, são ainda eficientes e impactantes e evocam as emoções requisitadas por cada encontro com chefe, todos (com exceção de um ou dois – eu estou falando com você, arcebispo) altamente desafiadores, nem sempre previsíveis, mas unidos por uma trágica história de plano de fundo muito porcamente entregue ao jogador no que parece uma concha de retalhos através de descrições desconexas em itens que nem todos vão achar e que simplesmente não bastam.
Belo e brutal, Dark Souls 3 é um ponto de entrada convidativo, falho, mas também virtuoso numa série visionária que mudou a indústria, provavelmente pra sempre. Atmosférico, denso, fora da curva e surpreendentemente divertido tanto quanto pode ser frustrante. Certamente mal narrado e por vezes muito abstruso, mas essas características dificilmente virão a eclipsar suas qualidades mais encantadoras. Dark Souls 3 vai cativar todos aqueles que o derem uma chance de verdade e provar que qualquer desafio é superável se você tentar o bastante, desde que, é claro ainda se trate de videogames.

Reviewed on Dec 18, 2023


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