Esse game já tinha me chamado a atenção pelo contraste entre o visual e o estilo de gameplay. Quem iria imaginar que uma ambientação e um personagem dignos de um filme da Disney (enquanto eu jogava minha irmã perguntou se eu estava jogando um game da Disney, mais especificamente da Pequena Sereia) trariam uma gameplay tão desafiadora e que te deixa com os nervos a flor da pele?

Another Crab's Treasure, popularmente conhecido como o Souls do caranguejo, é um acerto em diversos pontos. Na história, o caranguejo Krill tem que recuperar o seu casco após um Tubarão Agiota (sim) pegá-lo como pagamento de impostos à duquesa dos sete mares. Agora o jovem Krill precisa enfrentar o oceano em busca de seu lar, enfrentando tudo que tentar impedí-lo.

Realmente parece uma história de filme da Disney e, pra ser sincero, fico feliz que pareça. O oceano, as cidade de Nova Carcínia, os pontos mais obscuros e sombrios do Oceano, tanto nas profundezas quanto em pontos inabitados, são extremamente bonitos. Todo o game é colorido e passa uma sensação de desenho animado. É gostoso de olhar o cenário e os personagens também.

Krill é um carinha muito carismático, você se afeiçoa a ele no momento que começa a controlá-lo e compra facilmente o drama e os dilemas dele. Todo o elenco de personagens também é muito bem feito e vários tem sua própria personalidade, sem ser personagens genéricos jogados de qualquer jeito pra preencher espaço na trama.

A jogabilidade é o que se espera de um Soulslike. Tá tudo ali: atacar, rolar, parry, desviar. Algumas habilidades você precisa desbloquear, mas elas estão ali. E o game facilita um pouco a fórmula por não incluir uma barra de Stamina. Além de pular, Krill consegue dar uma nadadinha, que serve como uma espécie de planagem. O game também adiciona a mecânica das conchas, onde você vai aproveitando itens encontrados no fundo do mar (latinhas, caixas, escovas, patos de borracha e por aí vai) para usar como concha e cada uma tem sua habilidade e vantagem exclusiva, além também das adaptações, que são habilidades que tu adquire em maioria derrotando chefes. Os inimigos são variados, apesar de mais pro final se tornarem mais reskins do que qualquer outra coisa. Tudo é muito gostoso, flui bem e te faz agir com calma, pensar nos ataques e ficar nervoso.

Sobre a dificuldade: sim, é um game desafiador pra caralho. Eu vi uma galera comentando que talvez a dificuldade talvez fosse dar uma amenizada por causa da temática, mas não. Another Crab's Treasure é um game bem difícil e em certas partes beira o impossível em alguns inimigos, principalmente os caranguejos gigantes e os com bastões elétricos. Mas, pensando em quem prefere ter uma experiência casual, o game, além de incluir uma seleção de dificuldade, tem um Modo Assistência que te permite aumentar o dano causado, diminuir o dano recebido, diminuir o dano que sua concha recebe e por aí vai. E o mais genial de todos, o game te permite, se você quiser, claro, habilitar a assistência de trocar a concha do Krill por um revolver. Assim, você consegue dar Hit Kill em tudo que aparecer na sua frente. Feito como uma espécie de modo Very Easy pra quem preferir. Achei uma solução não só genial mas engraçada pra caramba.

O game tem poucos feitos que eu consigo apontar. O primeiro é o mapa, que quando você acessa ele no menu é só um desenho estático. Você não consegue interagir, marcar objetivos, nada. Você precisa acessar, ver onde você tá, se direcionar por ali e sair andando pra ver se consegue se acertar e chegar onde tu quer. No in-game tem uma bússola, mas eu acho que facilitaria mais um mapa interativo e um minimapa na tela. Outro é o level design que apesar de bonito, é muito confuso às vezes. Os mapas são amplos demais e não tem um indicativo muito certo de onde ir ou o que fazer, o que pode te render horas perambulando a esmo pelo mapa. E o terceiro são pontuais quedas muito fortes de frame. Em alguns pontos do mapa o game tinha uma queda de frames tão absurda que parecia que eu tava vendo um slide de tão congelada que a tela ficava. Isso me custou algumas mortes e quedas de plataformas altas. Não é algo que acontece com frequência e é só em pontos específicos do mapa, mas é algo que poderia ser evitado. Principalmente se falando de um game de geração atual.

No fim das contas, Another Crab's Treasure deixa um saldo muito positivo. Ele entrega história, gameplay, personagens e uma progressão muito boas e bem feitas. Gostosas de se jogar e envolvente. Ainda que tenham alguns defeitos, por ser o segundo game da AggroCrab eu acho que ganha ainda mais pontos. Recomendo demais mergulhar nesse oceano.

Eu simplesmente não consigo superar o quanto esse jogo é péssimo. Um game stealth em que a mecânica basicamente é "reza pra não ser visto" e é isso. Não tem nenhum aspecto de stealth: distrair inimigos, criar alguma rota que te permita não ser visto. Nada.

Os puzzles são literalmente pra quebrar a cabeça, mas quebrar de bater na parede de raiva porque simplesmente não existe UMA INSTRUÇÃO do que fazer nessa bosta. Eles colocam em tela "ache a chave" e é isso. Como você vai fazer pra achar a chave? Como eu completo esse puzzle pra pegar a chave? Pau no seu cu, se vira aí. Se não fossem os guias, provavelmente eu ia desistir de fazer ele porque NADA é intuitivo. São coisas que não tem como saber de início.

E mesmo com guia, te prepara porque tu ainda precisa fazer as coisas sem ser visto pelo personagem do local onde tu precisa ir. Ainda que os personagens tenham um script do que eles fazem e isso te permita achar brechas pra fazer as coisas sem ser visto, quando eles te enxergam o script reseta e tu precisa ficar esperando tudo rolar de novo. Sem falar que a IA desse game é da NASA, os caras te enxergam de costas. Aquele velho desgraçado com a espingarda me enxergava no andar de cima quando eu tava no andar de baixo e por aí vai. É um inferno, é cansativo e é frustrante ter que ficar repetindo tudo que tu já fez porque quando te acham tu perde TODOS os itens chave que estavam contigo. A melhor opção é achar o item, levar até o objetivo principal e aí ir buscar o próximo, porque se te pegarem quando faltar só um item, tu vai perder tudo e vai ter que ir buscar de novo. Não vai precisar fazer os puzzles, só chegar e pegar. Mas aí corre o risco de tu ser pego e o ciclo recomeçar.

A história é nula. Não entendi até agora porque esse arrombado tava com o pivete, não entendi aquele final tosco e sinceramente achei uma merda os caras terem colocado o moleque com uma Síndrome de Estocolmo ainda. Dá nojo e é uma resolução péssima pra um jogo péssimo. Olá vizinho é o caralho, não quero amizade e nunca mais quero ver esse vizinho na vida. Sinceramente, quero mais é que ele vá pro caralho.

The Order me surpreendeu. Eu não dava nada pra ele já que o game nunca foi visto de forma totalmente positiva. Mas já digo que eu gostei. Gostei da proposta, dos personagens, da ambientação (eu sou cadelinha de Londres Vitoriana, tem como não) e gosto da ambição que a Ready at Dawn teve. Mas faltou ainda mais ambição e faltou a coragem de ousar.

Chega a ser bizarro pensar o quanto esse game, que é de 9 anos atrás, é mais bonito que muita coisa que tá saindo hoje pro PS5. E se os gráficos são lindos agora, imagina na época. Gosto da decisão artística de manter a gameplay em widescreen pra dar um aspecto cinematográfico. Achei que combina com o game e dá a sensação de estar jogando algo de uma geração avançada de consoles. Tudo é impecável: movimentação, animação facial, tudo. Mirar e atirar é gostoso e em vários momentos de ação me vi envolvido no que estava rolando.

Mas, como eu disse, acho que a desenvolvedora ficou com medo de ousar. A gameplay é simples demais, acho que poderia envolver em escala maior outros aspectos da gameplay como a exploração, puzzles e por aí vai. Ainda mais porque no quesito exploração você só encontra itens que pouco acrescentam a história, parecem mais um monte de quinquilharias jogadas pelo mapa. Também acho que erraram muito em limitar a gameplay. Em vários momentos a gameplay de alguns capítulos é só andar e pronto. Já corta pra outro. Eu queria mais tarefas dentro da Ordem, entender melhor o funcionamento. Alguma coisa que envolvesse tarefas que não a ação, sabe?

E acho que o maior pecado desse jogo é a campanha em si. A história não é inovadora e joga no safe, mas mesmo assim não deixa de ser boa e de entregar um Plot Twist satisfatório. O problema é: é tudo muito rápido. Essa história, os personagens, os lobisomens, os vampiros. São aspectos jogados e pouco explicados. A campanha precisava ser mais extensa pra que esses e outros pontos fossem melhor desenvolvidos. Seja em diálogos ou em missões que não de tiroteio para expandir mais a lore do jogo e o universo em que ele se passa. E embora em diversos momentos a trama assuma um tom até épico de certa forma e se encaminhe nesse tom pro seu final, ele entrega uma batalha final sem graça e um final abrupto, que não compensa a história e te dá um banho de água fria. Ainda tem uma cena pós crédito jogada que também não serve de muita coisa.

The Order: 1886 é mais um daqueles jogos com um potencial e feitos enormes. E ainda que o lado positivo dele se destaque, ele deixa aquela grande sensação de quero mais e a sensação do "e se". Quero mais justamente porque o final abrupto te deixa querendo saber mais do que aconteceu depois, o que o Galahad vai fazer agora, o que aconteceu com o vilão do Plot Twist, como a Ordem se manteve após os acontecimentos. E o campo do "e se" se atrela a isso também: e se o game tivesse sido mais desenvolvido? E se eles tivessem tido a coragem de criar algo de escopo maior que fizesse jus a todos os outros aspectos espetaculares do game?

The Order é um game que poderia ter sido grandioso, mas se manteve pequeno por causa da desenvolvedora que talvez não tenha tido coragem ou cacife pra sustentar a proposta que criou. Por causa da recepção morna uma sequência talvez nunca venha, o que é uma pena. Queria muito ver o Galahad e seus companheiros batalhando as criaturas e queria muito um tempo maior na Londres Vitoriana.