Eu não sei o quanto dessa frase é verdadeira, mas eu odeio amar Hellblade.
Particularmente, eu sinto zero atração por jogos narrativos em terceira pessoa com câmera over the shoulder, com corredores "abertos" e gráficos ultra realistas, que ficaram mais populares de 2013 pra cá com The Last of Us. Porém Hellblade pra mim sempre foi um jogo diferente dentro desse bolo. Desde o anúncio os temas e estéticas adotadas pela Ninja Theory me intrigavam e me causavam um desconforto "gostoso", tal qual filmes e jogos de horror. Aquele sentimento de "eu não quero ver o que vai acontecer, mas eu preciso saber o que vai acontecer". E nesse sentido, Hellblade cumpre esse papel com maestria...

Ao contrário de outros jogos que eu já escrevi a minha opinião de bosta, é impossível falar das mecânicas de Hellblade sem falar da história (dado a estrutura de seu gênero). Tudo, literalmente tudo, que acontece com a Senua tem uma explicação na lore, e isso, pra ser sincero é fantástico pra mim. Os puzzles só são resolvidos por que é a Senua enxergando eles, da forma em que ela encara o mundo a sua volta. As lutas, que ao mesmo tempo que são simples são técnicas e dependem do máximo de atenção do player, tem uma justificativa narrativa. O fato da Senua em batalha se comportar como se estivesse dançando também! Cada virgula dita ou executada "pelo jogador" tem uma explicação, e não simplesmente existe por que sim.

A direção de arte é simplesmente impecável, a Ninja Theory soube mesclar com uma delicadeza incrível cenários de horror, com a temática e ambientes celtas (não o carro) e ainda demonstrar beleza no meio deles, fazendo com que, pra mim, os gráficos mega realistas sejam só a cereja no meio de um lindo bolo.

Como o jogo (agora franquia) é sobre a Senua - sem dar spoilers -, essa é uma das protagonistas mais incríveis e bem criadas que eu já vi em um jogo. Cada movimento, linha de diálogo e ação desenvolvem brilhantemente a personagem, suas condições mentais e emoções e as vozes que a acompanham ao longo do jogo. Isso claro é um mérito gigantesco da equipe de roteiro do jogo, mas um maior ainda da Melina Juergens que faz a personagem. É impossível terminar o jogo sem elogiar a atuação dessa mulher. Todos os sentimento que as cenas e a personagem trazem (dor, sofrimento, ingenuidade, raiva, alegria, amor, ódio, etc.) são extremamente bem demonstrados em tela graças a expressões faciais da atriz, que talvez em um gráfico mais cartunesco fosse mais complicado de trazer somente com a atuação da mesma.

Talvez a frase do começo seja uma mentira mesmo! Eu realmente gostei de Hellblade, mas talvez não exatamente do jogo em si. A mensagem que ele traz no final é muito bonita; a personagem principal é sim fantástica; a forma o qual tratam pessoas com esquizofrenia nesse jogo é cuidadosa e impressionante e foge de muitos estereótipos criados em outras mídias; a mitologia nórdica é trabalhada de uma forma bem diferente e interessante em relação ao imaginário popular; os puzzles são inventivos tal qual Perspective e Portal; a trilha sonora desse é simplesmente PERFEITA, principalmente nas batalhas de Boss. Sério, dá pra passar horas descrevendo as qualidades desse jogo! Mas no final, Hellblade é uma obra incrível, mas definitivamente não é pra mim, ao ponto que o 4/5 estrelas que eu dei, são 100% por todos os elementos citados anteriormente do que necessariamente pelo conjunto da obra, ao passo que eu não me vejo rejogando ele em anos.

Reviewed on May 25, 2023


1 Comment


1 year ago

Irônico pois é meu gênero favorito, rs. Tenho nada além elogios para esse jogo, destaco a atmosfera viking criada. A trilha sonora, os contos e os deuses nórdicos que enfrentamos são um caso à parte. O melhor nessa perspectiva.