A Capcom sempre soube o segredo para se tornar uma gigante da indústria. Crie bons jogos, faça deles uma franquia, transforme-os em uma subfranquia e tenha estúdios B, C e D que possam fazer suas releases anuais, semestrais e mensais constantemente. Mega Man Battle Network é um desses, outra subfranquia originária do Robô Azul, da qual recebeu muitos títulos durante o início até meados dos anos 2000.

Já quando jovem eu era apaixonado por Mega Man, conheci a saga provavelmente no X4 lá no meu PlayStation. Na época um dos desenhos (ou melhor, Anime) que passava era o famoso Mega Man NT Warrior do qual tenho os CD's até hoje.

Embora muito fã do anime, nunca havia jogado o jogo e não sei nem o motivo, afinal, sempre esteve no meu radar e sempre tive a curiosidade em testar, assim como a outra saga quase que contemporânea Star Force, do Nintendo DS. Enfim, o dia de jogar Battle Network chegou.

Logo de cara, amei reencontrar os personagens que eu conhecia na infância, sabe? Até a maneira como a cidade e as casas são já tava meio que fixado dentro da minha mente. Durante a gameplay ia até relembrando de alguns episódios aleatórios.

A forma como o jogo funciona é basicamente alternar entre o mundo real e o mundo virtual, onde seus combates e a maior parte da sua aventura é na Network. De início, é legal conseguir plugar (ou jack in como é no jogo) em alguns lugares tipo a T.V., Casa do Cachorro (sim, no futuro de Mega Man BN as casinhas de cachorro tem tomadas?!) ou até mesmo um piano e em consequência, conseguir entender o motivo pelo qual aquilo parou de funcionar ou apresenta problemas. Premissa interessante.

Porém, não é só de premissa que o jogo se faz, o principal aspecto é a gameplay, mesmo. Fora do mundo virtual, o jogo é um RPG dos mais tradicionais imagináveis. Você interage com os NPCs, eles respondem de forma genérica. Você interage com coisas, o personagem tem algo a dizer. Você pode pressionar "START" abrir seu menu e salvar o jogo, alterar algumas opções, enfim. É igual a muito do que você já jogou.

O combate do jogo funciona por um sistema de cartas (eles referem-se a "Chips" no game) dos quais o jogador pode utilizar (ou passar um turno para acumular mais chips para depois) para que auxilie o MegaMan.exe (acho muito fofo ".exe" no fim) no combate, podendo combinar seus Chips com outros da mesma categoria - no caso a letra, por exemplo, 3 Chips de Electric Sword de letra "J" ou 3 Chips diferentes, mas todos da mesma letra. É possível atacar sem os Battle Chips, obviamente, fazendo assim o nosso robôzinho atirar com seu famoso canhão de mão. Robô este que, nesse game, possui Upgrades que podem ser feitos, incluindo sua HP, o dano do seu tiro, carregamento do seu tiro e a velocidade do disparo - tudo isso em um campo estratégico limitado, com 9 espaços de cada lado sendo os outros 9 dos adversários. É bem feito. É legal você desviar a atacar os inimigos em um campo e depois de alguns segundos poder usar seus Battle Chips. Traz uma dinâmica muito boa e somado com o sistema de Upgrades e de obtenção de mais Chips (via batalhas ou o .exe Mercador) se torna muito foda. Porém, esse aspecto tão bom do jogo é destroçado por conta do Level Design pra lá de entediante.

Todo o jogo (com exceção do Primeiro Ato e Segundo Ato, basicamente) tem a Network consistida de vários caminhos sendo que só um vai te permitir progredir. Desses vários caminhos, alguns são bloqueados baseados no lugar que você plugou ou nos /"Insira nome" de um personagem que o Jogador ainda não tem a conexão de entrada/saída. Em um momento, vai ser no Sistema do Metrô, em outro na Escola, em outro nas Water Works da Cidade, em outro momento na Power Plant e por aí vai, sendo cada vez mais complicado e mais longo, sendo RECHEADO (e eu digo RECHEADO MESMO) de Random Encounters. Ou seja, você tá andando e PÁ! Vai ter que entrar em combate. Diferente de outros jogos dos quais você tem recursos para conseguir evitar o combate, em Mega Man Battle Network você só tem um Chip chamado Escape que te retira de batalha... Sim, você tem que entrar em batalha para poder sair da batalha. É patético, e faz com que os caminhos múltiplos e nada intuitivos piorem demasiadamente conforme o jogador explora - o que dificulta ainda mais por que você tá pensando "Opa, já passei por aqui, já fui por ali..." e é jogado para uma batalha. Após sair da batalha, você já esqueceu toda a linha de raciocínio que estava - e não dá pra jogar de forma No Brain em Fast Forward justamente por que o sistema de batalhas do jogo tem o elemento Tempo Real.

Quanto ao plot do jogo, é bobo. Não se aprofunda em nada e os personagens são genéricos, exatamente como já esperado.

A música é... nada demais. Pensando agora, eu lembro de duas delas justamente por que repetiam MUITO no gameplay loop do game, mas elas nem boas são. E as outras são totalmente esquecíveis. Mas não, não tem nenhuma ruim, também. O mesmo eu não posso dizer dos SFX, que são muito gostosinhos de se ouvir e não incomodam muito.

O jogo tem um visual aceitável para o Game Boy Advance, seus sprites são bonitinhos e os locais tem alguma personalidade aqui e ali, embora os pisos sejam sempre uns quadradinhos idênticos. As variadas Redes são legais mas depois de duas ou três delas você vê como são muito padronizadas. Chão igual, fundo sempre algum .png e a coloração variada. O que carrega muito é o fato de todos personagens serem muito charmosos visualmente, tanto no mundo real quanto os .exe.

Veja bem, é legal coletar os Battle Chips ou comprá-los do Mercador Cibernético (ou da Loja do Higsby). Assim como é maneiro colocar seus PowerUps em HP, ou Damage ou qualquer outro. É muito foda enfrentar alguns inimigos como o GutsMan.exe, WoodMan.exe, ProtoMan.exe e outros, desviar no momento certo, ficar duas rodadas sem utilizar nada para combinar seus Chips depois de 2 turnos para causar um dano absurdo neles. Ou utilizar Chips de aliados, tipo o da Roll.exe. Até mesmo os que controlam o campo de batalha, quebrando os pisos ou roubando espaço do inimigo. Mas em contrapartida, nada disso é suficiente para que o jogo seja elevado a um patamar das jóias da Nova Arte.

Analisando por completo, o jogo não é ruim. Também não é muito bom. Só é um tipo de jogo do qual o jogador nunca mais vai querer tocar, simplesmente por que ele traz um sistema de combate divertido cujo único propósito é ser dilacerado pelo decorrer da jornada.

No fim, Mega Man Battle Network é um bom exemplo de como o Level Design pode deixar um jogo charmoso, viciante e com um combate legal, em algo muito, muito TEDIOSO.

Resumindo: Esse jogo é um grande Rock Tunnel de Pokémon Fire Red/Leaf Green e você não tem o HM Flash e nenhum Repel. Boa sorte na chegada até Lavender Town.

Reviewed on Oct 29, 2023


2 Comments


6 months ago

E quanto a duração do jogo?

6 months ago

@Geno123 eu demorei quase 16 horas.