Jogado para o MASTER MANDOU volume 6, espécie de clube do livro de jogos que a pessoa não jogaria normalmente do servidor Game Design Hub do Discord. Fui sorteado pelo @sick_boi.

Eu já tinha ouvido falar desse jogo, mas não me lembrava muito bem. A única coisa que vinha na minha mente era o jumpscare de quando a menina aparece ao descer umas escadas, mas fora isso, nada. Me parecia um FPS maneiro, então aceitei a recomendação. Após muitos patches e mods de correção (o tamanho original da legenda deveria ser crime), comecei. Assim que as cenas terminaram e tomei controle do meu personagem, um soco cerebral me atingiu, e eu gritei:
RATO BORRACHUDO!
Reconheci imediatamente que esse era o jogo do nostálgico primeiro vídeo desse cara, que mais tarde, o nomeou. A nostalgia bateu forte, pois eu achava esse vídeo muito engraçado quando criança e já tinha o assistido mil vezes mesmo sem saber o que jogo era. Naturalmente, fui lá e assisti de novo, e também naturalmente, não achei mais tão engraçado.

Nosso protagonista mudo encara um exército de clones atrás do seu criador enquanto lida com uma fantasminha o assombrando, passando por uma campanha à la Half-Life furando todos no caminho.
Como no jogo citado, passamos a maior parte do tempo no mesmo local, mas temos capítulos com localidades mais variadas. Os cenários basicamente se reduzem a espaços pra se ambientar e se expor a história ou explorar por segredos e arenas de combate que podem ser acessadas de diversas posições.

Nessas arenas, somos agraciados com uma das melhores IAs que já vi num jogo: os esquadrões inimigos.
Enfrentar os soldados-clone passa uma sensação realista de enfrentar um esquadrão tático, onde cada um tem sua função e papel na coordenação de um plano de ataque. Eles se comunicam, entendem suas ações, se reorganizam e mudam seus planos, te forçando a pensar como enfrentá-los como um todo e não como inimigos singulares.
Pra isso, você saca uma das 12s mais gostosas que já saboreei e usa o bullet time pra passar atirando pelo meio deles, tendo uma explosão sensorial com os efeitos sonoros magníficos de tiros, impactos e cápsulas de bala caindo no chão em câmera lenta, e com os inimigos voando, explodindo e tentando escapar da morte num cenário que reage a cada bala com papéis voando, computadores fritando e fumaça.

Apesar de gostoso, não sei de qual sabor é esse doce. Ele parece ficar num meio-termo entre um jogo de movimento mais rápido e apoiado por quick-saves como Half-Life e um FPS mais "moderno" que se apoia em coberturas e ADS (mira). Você pode jogar de qualquer um dos dois jeitos e um pouco de tática será necessária de qualquer maneira, mas nenhum se expressa o bastante pra fazer parte da personalidade do jogo.
O ADS não é originalmente atribuído ao botão direito do mouse, e funciona como um zoom alternado de apoio de jogos antigos. Ao mesmo tempo, atirar com e sem mira tem uma diferença bastante significativa na precisão, ao ponto de fazer bastante falta ao atirar sem.
O bullet time e o fato das porradas serem insta-kill nos inimigos te influenciam a jogar agressivamente e se arriscar se movimentando entre os inimigos, mas mesmo com o clássico "sempre correr" ativado, o personagem é LENTO que dói.
A possibilidade de tentar não revelar sua posição e olhar pelos lados da parede, sendo cauteloso pra não perder sua pequena vida acrescenta no desafio e tática, pois ela não se recupera sozinha e ao invés de cinza, a tela ficará vermelha bem rapidamente. Então por quê lotar as fases de kits médicos e possibilitar o jogador de carregar até 10 ao mesmo tempo? Ah, e de todas as armas maneiras, criativas e escassas em munição, só podemos carregar 3 ao mesmo tempo?
O jogo ficar nessa ponte entre os dois estilos faz com que nenhum deles seja realizado com maestria. O jogo tem uma base excelente de cenários, inimigos, armas e habilidades, mas esquece de afinar um personagem de jogador que fique no mesmo tom.

É curioso criticar elementos de diferentes estilos misturados nesse jogo, pois isso é uma das grandes características dele, e já começa pelo nome de duplo sentido.
F.E.A.R. é o nome da sua organização militar, First Encounter Assault Recon, e obviamente também significa medo. Esse é o tal jogo que tenta misturar ação e terror, mas ao meu ver, falha. (PS: No jogo também tem uma organização chamada SFOD-D e você leu que nem eu né?)
Jogo, você me dá armas poderosas, a habilidade de desacelerar o tempo, e me põe pra lutar contra soldados coordenados e treinados. Você me faz sentir poderoso. Agora você quer me assustar com umas imagens piscantes de mortos e uma garotinha fantasma que aparece só pra ficar andando?
Pra sentir medo, preciso me sentir vulnerável. Tenho que temer pela minha vida ou algo do tipo. Ao perceber que ela só anda e fala um pouquinho, por quê visitas fantasmagóricas a um corredor de hospital com uns fantasminhas feios que somem com um tiro me assustariam? Há pouquíssimos momentos em que senti alguma coisa, até mesmo se colocássemos no âmbito de terror apenas psicológico. Os cenários são vazios e a aura sombria está sempre presente, mas o medo só fica no sentido militar.

Nosso esquadrão tem a missão de capturar o original dos soldados clones, assim desativando todo o exército, enquanto descobre mais sobre quem os assombra e os experimentos que levaram a isso tudo. Os personagens não são muito memoráveis tirando esses dois vilões, e alguns recorrentes dos áudios encontráveis são mais carismáticos que nossos colegas. Tem um NPC que se destaca por ser totalmente caricato e não combinar nem um pouco com o tom do jogo, mas pelo menos é marcante.

Em praticamente todas as fases estamos num jogo de gato e rato que se parece mais com Phineas e Pherb do que com Tom & Jerry. O vilão tá no mesmo lugar que você, e ao quaaase pegar ele o sinal some e vai pro local da próxima fase. Repete e repete. Em pouco tempo perde a graça, e seria muito melhor se a tensão de o alcançar fosse construída durante todo o jogo ao invés de ser inexistente por fazer desse jeito ruim. Mas de qualquer jeito não ia adiantar de muita coisa, pois a conclusão disso é mega anticlimática.

Esse ainda não é o pior problema da história. Ela tenta fazer um plot twist. Sem saber disso, na primeira cena eu já tinha um palpite de que ele existiria e o que seria. Com menos de uma hora, fica ÓBVIO o que é e o mistério que é uma parte grande da história é perdido antes mesmo de começar. Com algumas falas alteradas, acho que eu nem pensaria muito sobre, e pelo menos funcionaria um pouco.

Após zerar, comecei a primeira expansão, mas desisti. Esse é um dos jogos véios exclusivos de PC que são quebrados em máquinas modernas e precisam de um monte de correções. Eu fiz todas elas, mas mesmo assim, minha campanha foi recheada de crashes, e praticamente a cada reload metade do cenário ficava invisível. Eu tinha que recarregar sem parar até que tudo voltasse ao normal, mas a cada recarregada rolava um dado pra saber se o jogo ia crashar. Esse dado tava viciado. Na expansão tava crashando tanto que eu desisti, mesmo estando gostando.

Crashes e bugs permearam minha experiência inteira, mas mesmo assim F.E.A.R. é um FPS brabo que se destaca pelos seus inimigos inteligentes até hoje, mas falha em assustar e decidir qual identidade do gênero abraçar. Foi uma ótima recomendação de um jogo que realmente tava fora do meu radar e que supriu perfeitamente minha fome de ação no mouse e teclado após dois meses de Tears of the Kingdom, e também recomendo pra todos os que curtem o gênero.
Vi que as sequências sofrem da "consolização" e se entregam ao militarismo-moderno-ADS, o que me tira um pouco de vontade de jogar, mas a faísca pedindo mais continua acesa.

Reviewed on Oct 06, 2023


9 Comments


7 months ago

A foto desse jogo parece a samara

7 months ago

Não sei como o backloggd não adicionou a função de pôr fotos na review, nem que fosse pra perfil que pagasse mais, pra colocar as fotos desses momentos especificos que vc citou.

7 months ago

Sim eu li que nem você

7 months ago

Se eu tivesse vontade desse jogo seria destruída só por todos os bugs que você teve, aparenta ter mais problema do que jogo em si. Boa escrita!

6 months ago

@cellerepe é tipo a Samara mesmo. Acho que nunca vai ter função de foto, já que o site é só pra texto mesmo, e obrigado!

3 months ago

SFOD-D HAHAHAHAHA

25 days ago

Jogar jogo véio é que nem rolar no dado mesmo, no meu pc esse jogo rodou tranquilamente do inicio ao fim, sem nenhum bug ou crash, mas outros como Max Payne e Beyond Good and Evil ficaram crashando ou nem abriram.

25 days ago

Zerei ele sem mod nenhum, só no pelo.
@Felipse Pois é, como eu disse no texto, até desisti de jogar as DLCs. Parece ser mais sorte do que hardware. E sem mod nenhum, ele mal funcionava kkkkk