ME PRENDI NA BARRIGA DE UMA MÁQUINA HORRÍVEL, AGORA GANHO 1600 REAIS POR DIA SEM SAIR DE CASA

Uma rede complexa definida por vértices simples; um máquinário infinitamente velho e arcano regido por engrenagens ignorantes do papel que cumprem - nós literalmente vivemos em uma sociedade.
Descaradamente focado em representar nossa própria realidade suja, The Machine executa um choose your adventure baseado em atos com uma quantidade impressionante de variação natural, e um senso de ritmo e engajamento que tem bastante a ensinar pra vários roguelike devs por aí. Sua voz é simples, generalizada, às vezes batida; porém sempre honesta. É dificil esperar Pentiment ou Disco Elysium com as entranhas de 1kb de memória e 0.3 pentafleps megahertz de processamento do GBC. Nas poucas palavras que lhe é permitido, The Machine habla muito, e impressiona com sua estrutura expansiva , imprevisibilidade e uma visão claríssima.

A tentativa de definir videogames como arte às vezes acaba esquecendo da sua natureza como programas: alguns jogadores mais inclinados ao mérito artístico podem pensar que a parte do código é fria, não emocional e um mal necessário para a construção de um jogo. Essa noção, claro, está errada. Jogos são, principalmente, software, e um dos mais difíceis de se fazer por aí. O processo artístico de um desenvolvedor é tão influenciado por suas inclinações técnicas quanto por sua visão romântica - argumento, na verdade, que as duas coisas são inseparáveis. Em minha jornada de desenvolvedor aspirante, aprendi e fortaleci o entendimento de que a plataforma em qual o jogo é feito engendra uma gama de características que influenciam o processo criativo e o resultado final: se há diferenças notáveis em um jogo feito via Unity, Godot e Unreal, imagine quando estamos falando de diferenças tão drásticas de arquitetura quanto do GBC à um PC moderno!

E ainda assim, quando comecei The Machine, parti de um ponto de preconceito: porque alguém estaria fazendo um jogo de GameBoy em pleno 2022, se não pelo marketing de nostalgia? Pasmem, não sou perfeito. Fui provado bem errado neste ponto, e creio que que ele teria feito muito mais sucesso caso tivesse saído nas storefronts normais e mais acessíveis - aqui há todos os fazeres de um hit indie. Entretanto, é inegável que The Machine representa uma elegância em tom e execução que sem dúvidas foi fortalecida pelas limitações e particularidades de seu sistema, e entra para uma longa galeria de obras que mostram que podemos construir experiências profundamente complexas e emocionantes com muito pouco.

Reviewed on Oct 08, 2023


2 Comments


7 months ago

THE MACHINE GRINDS ON

7 months ago

"Por que alguém estaria fazendo um jogo de GameBoy em pleno 2022?"

Audacity Games, que desde 2020 está fazendo jogos de Atari, com fitas físicas e suporte oficial à comunidade de speedrun, lendo isso aí:
- Sabe de nada, inocente!

https://adgm.us/