Não sou nem perto um veterano da série: já molhei meus dedinhos no 3 e 4 (U), porém o que me pegou de fato foi o World. As razões foram diversas: O ciclo de gameplay da série sempre foi absurdamente viciante - sequência de boss fights cheias de vida e tensão; um loop de progressão de equipamento e habilidade alimentado por sistemas densos - simplesmente não há quem faça o clássico “espanque um dinossauro e faça armas dos restos dele” como Monster Hunter faz. Porém, foi na presença em uma plataforma mais confortável e um foco maior no espetáculo e acessibilidade que World me fez querer dar uma terceira chance ao jogo, e aí sim a isca me fisgou. O que mais ficava comigo, porém, eram os bichos. Ter que entrar na casa deles, procurar por eles, entender, pelos traços que deixavam, quem eram, o que comiam, onde gostavam de coçar o bumbum - era um deleite em narrativa por si só, criando todo um cenário antes mesmo de encontrar o monstro em si. As criaturas não eram só um dino qualquer de cujo qual precisava da sua arcada dentária fazer a cabeça do meu martelo, e sim um personagem, sua vida florescendo em suas animações, em suas relações curiosas e divertidas com os outros bichorongos - este ecossistema (tanto literal, quanto mecânico/narrativo) me apaixonou tanto quanto a série de excelentes desafios que o jogo propunha.

Ao meu ver, Rise, seja por sua origem mais humilde, de plataforma e recursos alocados, decide focar-se na parte de espancar os bicharocos, e dá muito menos importância pra quem eles são. O Barroth pode rolar na lama aqui e lá, mas o que vemos é uma versão muito mais otimizada da ecologia dos monstros para os propósitos do combate: você sabe onde estão todos os monstros sempre, suas transições de área e comportamento são mais estáveis e previsíveis, os encontros deles com outros monstros tem funcionalidades e fluxo claros de combate, antes situação caótica que agora se converte em objetivo oportuno ao jogador - tudo é feito para que o caçador sempre se sinta no controle, sempre saiba o que tem que fazer e pra onde ir, tendo todas as ferramentas para se refinar numa máquina de matar eficiente.

A filosofia de Rise transparece no seu combate, onde o caçador tem muito mais capacidade de responder ao monstro (na maioria do casos, é agora você quem propõe o jogo), as amarras que te prendiam cada vez mais leves: wirebugs e switch skills fazem com que basicamente não existam mais armas “paradas” e que quase todas armas tenham uma gama impressionante de opções em cada situação. Isso é refletido na agressividade dos monstros, que foi modificada para que consigam ao menos acompanhar a nova mobilidade dos seus predadores - o único monstro de Rise que, para mim, reverteu a relação de quem encurralava quem foi o caótico Magnamalo.

Embora pareça que esteja lamentando a perda dessas características de um jogo para o outro, eu me diverti, e muito. O combate mais reativo e o tanto de ferramentas que te dão joga muito mais para os meus fortes do que a maior paciência que os jogos anteriores requerem: quando em World me havia ancorado na gunlance por ser uma barreira impenetrável que protegia minhas inseguranças de noob, em Rise me encontrei em armas muito mais agressivas, minha maior alegria nas caçadas sendo aprender o timing de counters de diversos monstros e por a cara à tapa - as consequências de falhar eram menores, e até após a falha absoluta te permite voltar ao sugo do jogo rapidinho.

Já me foi explicado como Rise é um jogo feito com expectativas diferentes da linha principal da série, e entrei na jornada sabendo disso - o tom mais negativo dessa entrada não reflete a qualidade do jogo e o que esperava dele. Como um jogo feito para portáteis, Rise sabe destilar perfeitamente as qualidades principais da evolução de Monster Hunter moderno e traduzi-las em um pacote ainda mais acessível e atraente. MH Rise ainda é um jogaço, e ainda sim cheio de personalidade: gostei, especialmente, como ele se diferencia em sua estética mais obviamente japonesa e como ele gosta de ser mais propositalmente brega. É como disse no começo da entrada: não há ninguém que faça vale-tudo com dinossauro tão bem quanto as equipes de Monster Hunter, e Rise apresenta a iteração mais frenética e prontamente divertida que joguei.

Reviewed on Oct 23, 2022


1 Comment


1 year ago

Feliz que tu voltou a ter coragem/saco de escrever reviews mais longas e detalhadas! =D