A qualidade mais punk de No More Heroes é, ironicamente, que ele te faz trabalhar: as várias horas gastas andando de moto num mundo mal feito ao ponto do insulto, balançando o Joy-con igual um idiota para pegar gatinhos, escorpiões ou limpar grafite, intercalado com sessões lucrativas do que transformei em fordismo de ultraviolencia, toda a labuta convertida no ingresso para uma dose de 15 minutos de nonsense depravado e combate repetitivo - admiro e me diverti em como o jogo me manteve do começo ao fim me sentindo um verdadeiro idiota por continuar jogando.

A escrita de Suda é irreverente, abrasiva, te convidando para rir da estupidez que é a violência e toda a cultura que a exalta, ainda que esteja participando com deleite da mesma. Infelizmente, senti que os momentos em que No More Heroes mais me tocou não ocorreram durante seus picos de adrenalina, incrementalmente mais irritantes e desagradáveis - de um jeito ruim - e sim em quão estúpido ele faz todo esse esforço parecer, intencionalmente ou não. Embora o ciclo tratasse as lutas como o clímax, estrondos após um mar de tédio, lidar com um sistema terrível de combate em troca de algumas migalhinhas de nonsense decente não era o que me atraía no jogo, e sim o quão engraçado eu achava me sentir um total otário ao terminar de trabalhar na vida real, ligar meu Switch, e imediatamente começar o serviço no poço de lixo que é Santa Destroy.

Quando eu lembrar afetivamente de No More Heroes, não lembrarei dos controles nojentos ou dos bosses que são bullet-sponges entediantes. Do que lembrarei é de quando sua moto capota ao passar do lado de um carro cuja hitbox é três vezes o tamanho dele, ou nas várias vezes que fiquei mais de três minutos chacoalhando os controles pra pegar um gatinho e não conseguia de jeito nenhum - o tragicômico do banal e do corriqueiro executado com maestria. O que gostei em No More Heroes foi rir de quão idiota é trabalhar.

Reviewed on Sep 16, 2021


4 Comments


2 years ago

git gud

2 years ago

Pois bem. Seguirá a jogar a franquia em questão?

Ainda, sua opinião sobre herói mudou após o jogo?

Aguardo a resposta e agradeço pela atenção.

2 years ago

Seguirei sim, mas intercalarei com a linhagem de Silver Case. Então NMH2 só lá pro começo de 2022. Quanto ao Travis, achei viagem que o que falam sobre ele ser um personagem com qualquer camada de profundidade além de sátira nonsense.

2 years ago

Fico feliz!

Abraços fraternos,