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CaptainMari reviewed The Last of Us Part II

This review contains spoilers

Finalmente, tomei coragem para fazer essa review. 4 anos após ter jogado, esse jogo ainda ocupa minha cabeça às vezes. Ainda lembro dos sentimentos que tive jogando e , por sorte, na época fiz algumas anotações que me ajudaram a relembrar detalhes do que senti com essa obra.

Bom, eu era uma das pessoas que achava que The Last of Us não deveria ter continuação. Para mim, a história do primeiro jogo era perfeita, o final deixado em aberto era um ponto alto. Posso dizer que fui refutada, porque TLOU2 entrega a melhor e, na minha opinião, única sequência possível para seu antecessor, proporcionando uma experiência que não acho que seja possível em qualquer outra mídia.

Minha história com esse jogo começa em 2016, quando ele foi anunciado em uma conferência da Sony Playstation. Lembro-me de assistir o trailer de anúncio e me emocionar muito, eu não podia acreditar que um jogo que eu tanto amava, com personagens tão queridos, voltaria. Toda minha crença de que TLOU1 não deveria ter uma sequência foi facilmente desconstruída ali, pois, acima de tudo, eu confiava e sabia que a Naughty Dog não poderia falhar nesse jogo.

Fez parte da minha experiência acompanhar toda a discussão que surgiu ali depois do trailer de anúncio. Era o trailer perfeito para gerar debates e teorias. Ao mesmo tempo que introduzia a vingança como o tema principal do jogo, não indicava como chegaríamos a esse ponto. Claro que muitas teorias na internet vieram a se confirmar.

Como eu disse, por causa do tão amado TLOU 1, a Naughty Dog simplesmente não podia errar, sob pena de manchar a imagem unânime do primeiro jogo. Muitas pessoas discordam, mas eles acertaram em cheio. Escolheram o caminho mais desafiador para isso, porém o único possível. É exatamente por isso que o jogo divide tantas opiniões, nada nele é feito para agradar, faz parte da experiência sentir um desconforto emocional constante. Sim, Joel precisa morrer para esse jogo acontecer. Os acontecimentos de TLOU2 são direta consequência de TLOU1. É louvável o quanto essa obra é corajosa e não tem medo incomodar muitos jogadores.

O jogo é muito pesado, tudo nele é intencionalmente feito para provocar desgaste emocional e até mesmo físico no jogador. Lembro que após o acontecimento das primeiras horas de gameplay, a morte de Joel, senti até dor de cabeça e tive que continuar a jogar só no dia seguinte.

A morte dele é ainda mais dolorida quando pensamos que ela é consequência daquilo que Joel tentou fugir por muito tempo, justamente para sobreviver: confiança. Nesse mundo brutal, confiar, baixar a guarda por um segundo, significou seu fim.

Matar Joel é essencial para o plot acontecer. DÓI e é o momento em que formamos uma conexão muito forte com Ellie, ficamos cheios de ódio, com o coração quebrado e assombrados para sempre com a cena, preparados para nossa jornada de vingança, assim como ela. Nesse momento, Ellie entra no ciclo de violência. Estamos cansados de saber que "a vingança nunca é plena, mata a alma e envenena", mas não estávamos preparados para assistir (e jogar) a gradual e dolorosa morte da alma da garotinha do primeiro jogo, em uma jornada psicológica e emocional intensa. Mas não se engane: o jogo não é só sobre o ciclo de violência e como a vingança envenena.

A primeira metade do jogo, em que controlamos Ellie, é extremamente desgastante. Nós, jogadores, vamos perdendo nossa humanidade aos poucos, assim como a protagonista.

Depois, em mais uma corajosa decisão, somos colocados para controlar Abby, e logo descobrimos que não vai ser por pouco tempo. Aqui já se inicia um desafio que não pode ser resolvido com o controle: jogar a segunda metade do jogo inteira na perspectiva da suposta e até então antagonista, aquela que matou um dos personagens mais queridos dos videogames. A coragem dessa decisão é louvável, porque o jogo simplesmente não vai funcionar para quem minimamente não ter empatia por Abby. E, sem surpresa alguma, muitos não conseguiram, logo, odiaram o jogo.

Como eu disse, nada é feito para agradar, nem mesmo os adoráveis flashbacks de Joel e Ellie, que são sim um respiro em meio ao caos, mas servem para cutucar a ferida aberta e cultivar o desconforto emocional que é necessário sentir ao longo de todo o jogo.

No ápice da história, Ellie e Abby se enfrentam em uma lendária boss fight, uma das melhores dos videogames, já que, novamente, o desafio aqui é muito maior do que apenas a mecânica. Controlando Abby, somos obrigados a DESTRUIR Ellie na luta. Cada aperto no quadrado é um aperto no coração. É a utilização genial da gameplay em jogos de história linear: você está matando uma personagem amada, e não tem escolha de não fazê-lo. O jogador se sente quebrado, contrariado, desesperado. Por isso digo com facilidade: nenhuma mídia consegue replicar esse tipo de sensação, se não os videogames.

A jornada de Abby é quase como uma prévia da de Ellie. Obcecada por vingança, desgasta vários aspectos da sua vida, principalmente sua relação com Owen. Abby conclui sua vingança matando Joel, mas não encontra paz nem resolução para seus conflitos e traumas, como achou que teria. Na verdade, começa a se curar quando salva Lev e Yara, momento em que começamos ver seus pesadelos mudarem para imagens felizes de seu pai. Assim, começa uma jornada de redenção, que é justamente o que pode trazer paz de espírito para Abby. Inclusive, a relação de Lev e Abby é quase um paralelo da relação de Joel e Ellie em TLOU1, que foi o que também "salvou" Joel.

Por sua vez, ao contrário de Abby, Ellie está iniciando sua jornada de vingança. Sua obsessão, assim como ocorre com Abby, aos poucos vai deteriorando sua vida e suas relações, principalmente com Dina a qual, por muito tempo, é a âncora que impede Ellie de cair totalmente na escuridão.

É importante perceber que Ellie tem consciência dos atos horripilantes que pratica, e como eles afastam as pessoas que ama. É possível ver isso claramente em seu diário. Mas, cega pela vingança, acredita que esse é o único caminho possível para lidar com seu trauma.

Sua decisão final de poupar Abby, odiada por muitos jogadores, precisa ser entendida sobre o aspecto da personagem Ellie. Tlou sempre foi um jogo muito mais sobre seus personagens do que o contexto geral em si. Tanto é que um dos fatos mais importantes para o universo do jogo, a cura, sequer é importante em Tlou2. Os próprios infectados nunca passaram de pano de fundo para uma história maior. Por isso, esse final não é sobre "vingança é ruim", tampouco é sobre a quebra do ciclo de violência.

Até esse momento, Ellie NUNCA tinha tomado escolha alguma por si só. Primeiro, Joel tira sua decisão de morrer ou fazer a cura. Depois, Abby tira a sua escolha de perdoar Joel, algo que só descobrimos no cruel último flashback. Inclusive, ele ser mostrado somente no final é GENIAL, ressignifica toda a história.

O caminho de redenção de Ellie, que também é a sua maneira de alcançar paz interior, começa com essa decisão. Representa deixar Joel ir, abandonar o passado que a prendia, entender que perdoá-lo é uma escolha somente dela, que não envolve concluir a vingança, até porque não seria isso que Joel desejaria para ela.

No final, Ellie, pela primeira vez, tomou uma decisão, escolheu seu caminho. A partir daí, inicia sua jornada de redenção, em busca de paz de espírito, a mesma que Abby percorreu com Lev. Talvez ela decida fazer algo sobre sua imunidade, dar sentido a sua vida, aquela que Joel foi cobrado por salvar. Não sabemos, é um final deixado em aberto, assim como no primeiro jogo.

Ela seguiu em frente, perdoou e deixou Joel ir, o que é representado pela cena final dela deixando o violão, instrumento que a ligava a Joel, e indo embora para percorrer seu próprio caminho.

Entendo que há quem ache que poupar Abby é uma dissonância ludo narrativa, já que matamos milhares de NPCs pelo caminho durante a gameplay e, logo ela, é poupada. Discordo, pois cada morte tem muito peso, tanto pela violência gráfica, quanto pelo impacto que provocam em Ellie. Além disso, Abby não é só mais uma NPC que temos que matar. Ela é literalmente a outra protagonista e carrega grande significado para a história de Ellie, como exposto acima.

Enfim, essa é minha interpretação da história e do final. Como eu disse, gostar desse jogo não é fácil, por isso é tão controverso. Além de ser uma experiência emocionalmente pesada e desgastante, envolve um enredo difícil de digerir, que conta com decisões feitas para desagradar, que, por si só, devem ser aplaudidas por sua coragem.

Quanto aos aspectos técnicos, o jogo é um primor em todos os sentidos. Impressiona que isso foi alcançado no PS4 e ainda hoje é um dos jogos mais tecnicamente impressionantes. Além disso, a gameplay é uma das minhas favoritas desde TLOU 1, mas aqui eles elevam absurdamente o nível e aprimoram o que foi feito no primeiro jogo em todos os sentidos. Destaque para o combate corpo a corpo, em que, com a simples adição de um botão de desviar, elevou MUITO a jogabilidade. O único ponto negativo que consigo pensar na gameplay é que o jogo te dá muitos recursos após as batalhas, o que tira um pouco a importância de administrar bem os itens e diminui a sensação de escassez e sobrevivência.

Por fim, estou fazendo essa review depois que assisti o documentário sobre o desenvolvimento do jogo (recomendo muito assistir), e percebo que a existência dessa obra com essa qualidade é um feito excepcional. Infelizmente, envolveu crunch dos trabalhadores, mas fiquei satisfeita que o documentário abordou esse tema (na minha opinião, bem) e mostrou que há uma consciência do que aconteceu e medidas estão sendo tomadas para melhorar as condições de trabalho e expurgar essa prática da Naughty dog. Espero que isso realmente se realize.

Posso dizer que Tlou2 é um dos meus jogos preferidos da vida. Para mim, grandes obras são aquelas que incomodam, provocam reflexões e desafiam o simples jogar ou assistir. Ninguém está preparado para esse jogo, mas jogue. E jogue de mente aberta e coração preparado.

13 days ago


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