"Estamos sempre fugindo de onde pertencemos"

Para cada mensagem existe o modo que essa mensagem é passada e a finalidade da mesma, videogame é uma mídia que constantemente utiliza de uma narrativa pautada em violência, justamente por ser uma mídia mais ativa, essa limitação sempre foi algo que moldou os padrões e gêneros dentro da mesma, Hades usa do conflito geracional e violento dos deuses, da morte, e parricídio, para falar sobre descoberta, separação de relacionamento, e amor familiar, envelopando tudo isso em um rogue-like, é incrível como todas essas narrativas conversam dentro do gênero quase como se o gênero fosse criado para dar vida a essa história, e seus sistemas diegeticamente conversam sobre toda essa ludonarrativa de Hades.
Ele se apodera da típica narrativa mitológica grega que conta sobre tragédias e homicídios, para mostrar que para cada ato de violência existe alguma conversa não finalizada e um coração não afagado, e mesmo que doa, buscar fugir é melhor que o conformismo de acertar a perda inevitável.

Em uma das rotas de Class of '09 um personagem nerd e otaku extremamente estereotipado entra em uma seita extremista racista conduzida na sua escola e onde a maioria dos alunos se encontra, e mais do que por pura identificação com as pautas, o garoto se sentiu incluído em meio àqueles vermes extremistas, mesmo que eles apenas os estivessem dando ordens em prol de uma linha política, o personagem absorveu como um lugar onde ele teria acesso ao coletivo e acabou sendo captado pela extrema-direita por essa falta de apoio e conversação seja no seu núcleo social quanto familiar.
Class of '09 capta habilmente seu alvo de crítica em um recorte da falida sociedade estadunidense que representa o que temos de mais deplorável no capitalismo moderno e coloca isso na enésima potência e sem filtros, onde o humor é usado da melhor forma em tornar visível os algozes da nossa sociedade, expondo cicatrizes que são apenas maquiadas na nossa realidade. O jogo sabe bem no que está batendo, e bate nisso de forma bem eficaz, e apesar do exagero no choque em algumas situações, no geral a base de paródia é como se você tivesse um South Park focado no ensino médio estadunidense, claro, que resta ainda amadurecer nessa ideia crítica e ir além dela.