Veredito: bem básico, mas melhor do que parece.

No começo do DS, toda hora inventavam um jeito novo e legal de usar a tela de toque. Trauma Center foi desses. Você é o cirurgião e a caneta pode ser o bisturi, sutura, seringa, pinça ou o que mais um cirurgião precisar.

O que eu não esperava era ele ter chefes e uma história. Claro, nada revolucionário (basicamente relações interpessoais, OMS e bioterrorismo) mas ajuda muito a dar substância. Tanto enredo quanto jogabilidade acabam tendo mais profundidade do que parecem.

E é bem curtinho e cheio de conteúdo extra. Vale muito a pena.

Veredito: bonitasso e competente.

Gira em torno da relação entre uma cantora que perdeu a voz e o seu amante, cujo espírito habita a espada que você carrega o jogo inteiro, numa cidade distópica com conspirações políticas. O combate é excelente, a história é super bacana, e as músicas e direção visual são lindíssimas. Como eu poderia reclamar?

Jogos (e arte em geral) devem ser julgados não pelo que esperamos deles, mas pelo que são no fim das contas. E pela experiência que temos com isso que eles são.

Transistor é diferente do que eu esperava. Falavam que era um puta jogo fodão pra caralho, e achei que fosse ser algo de outro mundo, com uma história que me fizesse chorar horrores. Mas não. É só um RPG muito bem feito. E tudo bem.

Veredito: Curto, criativo e divertido.

Provavelmente é modelo pra vários gamedevs aí. É um jogo amador, e falo isso como um puta elogio: o carinho por videogames tá em cada detalhe dele. A prioridade não é "parecer sério e profissional", ele é sério e profissional e não precisa provar isso. Porque a prioridade é ser legal de jogar e ponto.

Sempre teve jogo que faz muito com bem pouco, mas VVVVVV sempre vai vir na cabeça quando eu pensar nisso. O gráfico é o mais simplista possível, a música é um chiptune provavelmente feita no Game Boy ou Nintendinho e, agora que o jogo virou código aberto ano passado, reza a lenda que esse código é uma bagunça escrita por um cara que claramente não era programador.

Nada disso impede VVVVVV de ser do caralho. Dá pra zerar em pouco mais de uma hora, é extremamente rejogável, e diverte tanto que chega a ser estranho. Não passa de um plataforma 2D, com uns 5 ou 6 personagens pra resgatar no final de fases mais ou menos difíceis espalhadas num mundinho explorável, e com uns conteúdos extras legais. É só isso. Pega a mecânica de inverter gravidade, que o nome VVVVVV já joga na cara, e suga tudo o que tinha pra sugar dessa mecânica.

A pergunta "E se fizessem um jogo de plataforma sem pulo?" nunca foi tão maneira.

Veredito: fofo, curtinho e minimalista.

Existem jogos que fazem muito usando bem pouco: Braid, Zelda 1, a trilogia Ace Attorney... E aí existe Thomas Was Alone. Thomas é tão simples e minimalista quanto possível: você controla retângulos pra chegar ao fim da fase, e só usa o direcional e o botão de pular. Poderia ser fácil um jogo de Atari, se não fosse o narrador dublado.

Mas nessa premissa minúscula, consegue fazer caber mais de 100 fases - todas super curtas, óbvio - e uma história mega bonitinha, vomitadora de arco-íris, digna de livro de histórias infantis. Na qual as IAs são os heróis, e no fim do jogo Thomas já tem tantos novos amigos que o nome nem faz mais sentido.

E é tão curto que dá pra platinar fácil em uma sentada. ❤

Veredito: o único da sua espécie.

Alguns jogos usam tomadas com atores e atrizes, mas em geral é só um pedaço de um vídeo entre uma cena jogável e outra. Her Story não: ele usa isso como a mecânica central.

Anos atrás a polícia investigou um assassinato, e você tá assistindo aos depoimentos gravados da esposa, acusada de ser a assassina. Mas não tem como simplesmente ver todos os vídeos do jeito que quiser. É um banco de dados com muitos clipes (entre 5 segundos e 2 minutos cada) e você tem que buscar por palavra-chave, tipo o YouTube só que bem mais limitado.

Toda a graça está no roteiro bem escrito pra caralho por Sam Barlow, e na atuação impecável de Viva Seifert. Dá pra zerar em uma sentada (literalmente 1~2h de jogo pra descobrir os principais spoilers e considerar o jogo 'zerado', o que mais vier depois disso é lucro) mas gostei tanto que quis extrair absolutamente tudo que ele tinha a oferecer. E lá se foram quase 20h assistindo, catalogando e anotando cada detalhe.

Não me arrependo de nada. Com certeza, o único jogo do tipo que já vi na vida. E é muito bem feito. Espero que eu consiga jogar mais coisas como ele no futuro. Aguardo com carinho.

Veredito: magnífico, atemporal e incomparável.

Sabe quando foi a última vez que traduziram pro 3D uma série clássica dos 8-16 bits de forma tão impecável?

Sabe quando que peguei num jogo de exploração tão caprichado?

Imagina qual foi a última space opera tão opressiva e ao mesmo tempo tão divertida que já joguei?

Faz ideia da última vez que um jogo envelheceu tão bem quase 20 anos depois?!?!

NUNCA!!!!!

A menos que você deteste metroidvanias ou fique tonto com jogos em 1ª pessoa... Vá jogar Metroid Prime. Anda, vai lá. Agora. Tou mandando.

Veredito: não é tudo o que dizem, mas é bom pra caralho.

Provavelmente o jogo mais elogiado que conheço. Desde que frequento a internet, um sem número de colegas vivem falando que ele é lindo, gostoso e isento de falhas. Mas por algum motivo eu nunca tinha dado muita atenção. Até agora.

E dá pra ver por que ele é tão querido. Ação frenética, músicas empolgantes, controles precisos, level design de primeira e inimigos super bem bolados. 'Isento de falhas' é um exagero. A curva de dificuldade nas últimas fases é meio inconstante, e os segredos nem sempre são intuitivos. Mas é divertido pra cacete, e isso não dá pra questionar.

Veredito: fantástico e atemporal.

Tem um bom motivo pro Shigeru Miyamoto ser chamado de 'mago dos games': é porque ele merece. E Mario 64 é prova disso.

Quase 25 anos depois, continua uma delícia. Tem coisa que claramente envelheceu mal (a câmera merda, uma física esquisita aqui e ali) mas isso é porque este foi o 1º jogo na história feito pensando em 3D. Tirando esses detalhes, continua perfeito e extremamente divertido, e provavelmente vai continuar por muitas décadas ainda.

Se você gosta de videogame hoje, você deve alguma coisa a Mario 64. Ponto.

Platinado pela trizilhonézima vez. E certeza que ainda volto nele qualquer dia desses...

Veredito: Bom, mas nem de longe tanto quanto os melhores Sonics 2D.

Assim como Freedom Planet, Spark ao mesmo tempo se inspira pesado nos Sonics clássicos e tenta ser um jogo próprio. O resultado é fascinante: história engraçada e que não se leva muito a sério, músicas FRENÉTICAS BAGARAI ALGUÉM DÊ UM PRÊMIO AO COMPOSITOR, poderes criativos para passar pelas fases de jeitos diferentes conforme o estilo de cada jogador e, claro, uma sensação de velocidade que deixa bem clara a influência em Sonic. Diversão leve, rápida e sem compromisso.

Ao mesmo tempo, o resultado é... bem defeituoso. Não é nenhum grande defeito em particular, e sim pequenas coisas aqui e ali, que acabam se acumulando. O level design tem VÁRIOS pequenos problemas que me fazem perder o impulso sem sentir que o erro foi meu. As configurações são meio confusas. O desempenho às vezes dá umas tropeçadas bizarras. São pequenos deslizes que acabam tendo um peso enorme no produto final.

Depois de zerar Freedom e Spark, falo tranquilo que fazer um plataforma focado em sensação de velocidade é mais difícil do que parece. Como vários jogos do próprio Sonic já mostraram, não é só 'fazer parecido com Sonic', isso não basta pra ser bom. Spark é bom, mas nem sempre ele supera essas dificuldades.

Veredito: bom pra caralho, mas deveria ser melhor.

Já fazia mais de 10 anos que um Sonic bom tinha saído, então claro que Mania ia ser um puta sucesso. É um Sonic de Mega Drive melhorado: mais conteúdo desbloqueável, mais fases bônus, chefes melhores.

Mas tem um defeito imperdoável: conteúdo reciclado. Dois terços das fases são exatamente as mesmas de antes, inclusive as bônus. Não é um simples reaproveitamento de texturas e músicas. É literalmente o mesmo level design do Mega Drive. Eu passei de várias fases só pela memória muscular, mesmo nunca tendo jogado Mania antes.

Acho que era inevitável, é a 1ª vez que a Sega oficializa um fangame. Mas mesmo assim acaba sendo o único defeito do jogo. No mais, é pura festa para fãs do ouriço.

Vou esperar ansiosamente por Sonic Mania 2.

Veredito: divertido e caprichado pra cacete.

Não sou um jogador super exigente. Me dá umas fases pra passar, uns inimigos pra matar, uns tesouros pra pegar que eu já fico feliz. Na mão de criança, tudo é brinquedo.

Shovel Knight é um brinquedo, e dos mais legais que já brinquei. É o contrário de reinventar a roda. Ele faz apenas e tão-somente o básico: te diverte. Mas faz tanto isso, mas tanto, e tão bem feito, com tanto carinho, tanto capricho... que dá até gosto.

É cientificamente impossível gostar de videogame e não se divertir com Shovel Knight, vai contra as leis da Física. Mate os inimigos. Colete os tesouros. Passe de fase. Coloque um sorriso no rosto. Enxágue e repita até zerar. Ah, e dá pra dois, local e online!

Mal posso esperar pra jogar as expansões.

Veredito: criativo e bem escrito.

A investigação criminal nos jogos nunca mais foi a mesma depois de Ace Attorney, o jogo de advogado criado por Shu Takumi. Ghost Trick é o que acontece quando o Shu faz um mistério policial sem tribunais e com fantasmas.

A ideia é clara: tu morreu mas não lembra de nada, e decide investigar a própria morte. Obviamente, descobre que o caô é bem maior que poderia imaginar, envolvendo governos de outros países, assassinatos nunca solucionados pela polícia e, claro, seus poderes de assombração, que são como você joga. Acenda e apague luzes, remexa em estátuas, faça as coisas se moverem sozinhas. Tudo para resolver puzzles, salvar vidas e desvendar os mistérios que envolvem sua estranha morte.

O único defeito é que no 1° ato os diálogos ficam recapitulando tudo a cada 5 minutos, o que deixa o ritmo meio irritante, embora fosse comum no Nintendo DS. Mas frente ao conjunto da obra, com seu roteiro incrível e puzzles extremamente criativos, reclamar disso parece até bobo.

MÍSSIL É O MELHOR CACHORRO DOS VIDEOGAMES E QUEM DISCORDA TÁ ERRADO ❤ ❤ ❤

1990

Veredito: Um ótimo adventure chorável, o que infelizmente saiu de moda.

Me lembra um pouco To the Moon e outros jogos da Freebird: é tão curto, linear e limitado que parece até uma visual novel sem ramificações. O foco é 100% na beleza da história e, fora a mecânica a la músicas de Zelda antes de Zelda, Loom tem quase zero jogabilidade além de andar e observar/conversar.

Loom é um jogo infantil com uma história infantil sobre fantasia, poderes mágicos e música. Mas como toda boa história infantil (Peter Pan, Pequeno Príncipe e Corda Bamba vêm logo na cabeça) ele pega temas bem adultos sem deixar de ser acessível pras crianças. O medo, esperança, recomeço, solidão e o limite das nossas capacidades pessoais são pontos chave da trama. A parte visual e (o pouco que tem da) sonora é lindíssima também, o que óbvio não atrapalha.

Também ajuda que joguei com um monte de amigos assistindo no Discord, com direito a lágrimas e a conversas depois sobre o jogo, ressuscitando a ideia (tão rara numa pandemia) de jogos 'para um' sendo uma experiência coletiva.

Espero que outros estúdios além da Freebird peguem carona nesse bonde. Todo mundo só tem a ganhar.

1993

Veredito: vale mais pela curiosidade histórica do que pelo jogo, mas o jogo ainda é bonzão.

Chamar Doom de '1º FPS da história' é um puta exagero, mas esse jogo é reverenciado como se fosse. E é por um bom motivo que todo FPS era chamado antes de 'clone de Doom': ele é bom pra cacete, principalmente pra um jogo de 1993.

Quer dizer, hoje ele não faz muita coisa que milhões de jogos depois dele já não melhoraram. É curto, simplório (poucas armas e pouca variedade de inimigos) e os gráficos 3D são na verdade um 2D cheio de gambiarra. Mas vale a pena conhecer as raízes do gênero: música empolgante, violência descerebrada, e chacina de demônios até não aguentar mais. Se a história dos FPSs não te interessa, pelo menos você vai curtir uma diversão boba e simples feita para adolescentes-metidos-a-adultos dos anos 1990.

Inclusive, saio dele querendo jogar os antecessores, especialmente Wolfenstein.

Veredito: 'só' um FPS muito bom.

É difícil jogar Half-Life sem pensar na reputação dele. Muito mais que o meme 'Cadê Half-Life 3?!', este é um dos FPSs mais famosos e influentes do mundo, com um nome enorme por trás. Mais de 20 anos depois... Não é que ele tenha envelhecido mal, mas muitos jogos já fazem melhor tudo o que ele fez, e fazem mais coisas ainda. A fórmula tanto amadureceu como cresceu.

Isso não é nenhum problema. Pelo contrário, é ótimo que a arte tenha sido inundada de jogos de tiro inspirados por algo tão bem feito. Mas hoje ele é só isso: um jogo bem feito. Combate sólido, direção sonora e visual sólidas, história e narrativa sólidas. E, pelo menos pra mim, isso é mais que o bastante.