Veredito: A comida deliciosa e perfeita da vovó.

Minha avó paterna foi a melhor mestre-cuca de todas as galáxias. Ela não cozinhava nada extraordinário, nada que você veria num restaurante chique. Era feijão, arroz, bife, salada e purê de batata, tudo bem básico. Mas puta que pariu, NINGUÉM faz um feijão com arroz tão delicioso quanto o dela!

Chrono Trigger é o feijão com arroz dos JRPGs. Quase tudo nele já foi feito mil vezes em outros jogos: batalhas em turno, protagonistas adolescentes, fantasia medieval, magitecnologia, enredo de salvar o mundo. Mesmo os tropos dele que não são sempre associados a JRPGs, como viagens no tempo e parasitas malignos, são clichês de alguma forma.

Mas nenhum, NENHUM jogo faz o básico tão bem feito quanto ele. Cada mínimo detalhe foi projetado e executado com tal maestria que hoje, quase 30 anos depois, ele ainda reina como o melhor do gênero.

Tem nem competição.

História? A mais emocionante, bem amarrada e com melhor ritmo que um jogo do tipo já teve.

Sistema de batalha? Impecável, e te mantém engajado da primeira luta até o chefão final.

Personagens? Todos são excelentes, nas batalhas e nos diálogos. Porra, até a maioria dos NPCs parecem mais reais e desenvolvidos que muito protagonista por aí.

Sidequests? Todas são de alguma forma importantes pra trama e pro desenvolvimento interpessoal da equipe.

Não tem muito o que eu falar dele que já não tenha sido dito e repetido ao infinito na internet afora. Do mesmo jeito que nunca vou conseguir falar nada de novo sobre um bife. Um bife pode ser mega suculento, bem temperado, macio, delicioso, mas ainda é só o bom e velho bife.

Chrono Trigger ainda é um jogo super básico. Mas assim como o bife que vó Lourdes fazia, ninguém nunca conseguiu criar um JRPG tão perfeito quanto ele.
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PS: joguei a versão de DS, mas registrei aqui no site como a versão de Super Nintendo por burrice, hahaha! XD

Veredito: Continua sendo o pior Zelda, mas mesmo assim é ótimo.

Link's Awakening está num momento curioso da história da franquia: saiu pouco depois do Zelda de Super Nintendo, 5 anos antes de Ocarina, foi o 1º Zelda portátil e - talvez o mais importante - foi um projeto paralelo de seus criadores, iniciado quase que só pela zuera da coisa, sem praticamente nenhum envolvimento do cara que inventou Zelda.

Link's Awakening é um Zelda descompromissado e despretensioso.

Essa é de longe sua maior qualidade, mas também é de onde surge a maioria dos seus problemas: várias armadilhas são baratas, alguns puzzles forçam um pouco a barra, e uma ou duas vezes eu corri o risco de me travar e quase precisei recomeçar tudo do zero. Sem contar que você não é exatamente um herói numa aventura épica pra salvar o reino, tu é só um náufrago preso numa ilha e tentando sair. E o mapa é consideravelmente pequeno. Jogo bem bacana como qualquer Zelda, mas comparando com o resto da série este é um dos mais fraquinhos.

Ao mesmo tempo, essa liberdade é justo o que dá o charme de LA, é justo de onde saem suas ideias mais legais. Ele faz umas coisas que (quase?) nenhum outro Zelda faz. Por que todo jogo precisa ser uma jornada épica? Por que todo mapa precisa ser imenso? Esquece isso, coloca aí animais falantes, personagens hilários e situações inusitadas no jogo. Por que tem aparições aleatórias de um monte de outras franquias da Nintendo, especialmente Mario, algumas necessárias pra avançar na história? Por que tem uma sidequest de tirar fotos divertidas? Porque sim, oras.

É essa lógica que permite você combinar itens para ter efeitos novos, que trouxe o primeiro (e mais divertido até agora) minijogo de pesca em Zelda, e que traz uma história meio melancólica e pessoal pra franquia pela 1ª vez. Alguns labirintos e chefes são ruins sim, mas quando eles são bons, eles são REALMENTE bons.

Nem todas as ideias novas deram certo, mas pelo menos eles puderam ter ideias novas. Não precisaram passar pela aprovação de 20 supervisores e ler 50 documentos só pra botar uma ideia legal num jogo legal.

É difícil de imaginar meia dúzia de gato pingado na Nintendo pegar hoje uma de suas franquias mais renomadas e fazer o que quiser com ela, sem levar nada muito a sério e sem ninguém ficar se metendo. Mas é uma pena. Por mais problemas que tenha, Link's Awakening experimentou coisas novas e muitas delas são super maneiras. E parece que isso só foi possível ali naquele momento: quando a galera tava fazendo o que queria, criando o jogo que estavam a fim, sem se preocupar com os milhões de dólares que precisam ser investidos nos mínimos detalhes pra botar qualquer coisa em prática.

Veredito: Ludonarrativa em seu melhor estado.

Toda a discussão de "walking sims são ou não são jogos de videogame" é tola e estúpida. Ficar procurando definições formais de "videogame", e riscar uma linha cartesiana no chão pra separar o que entra e o que não entra nessa definição, é tão inútil para o amadurecimento da arte gamística como "tomates são frutas ou legumes?" é inútil para a culinária. Tomates são tomates, oras. Eles servem pra ir na salada, no molho, e até na pizza. É como perguntar "preto é ou não é uma cor?" e dar toda uma explicação científica de como cores são na verdade espectros da luz visível, ondas eletromagnéticas captadas pelo olho e interpretadas pelo sistema nervoso, e o preto é na verdade uma interrupção da luz visível e blablabla.

Não sei se a explicação científica é essa, eu não sou físico nem biólogo. Mas no fundo não importa: um desenhista ou um pintor sabe que, para criar aquilo que ele gosta de criar, o preto é uma cor. É usado como cor, tem função de cor, ele é - para todos os fins práticos e efetivos - uma cor e fim de papo. Não interessa a definição oficial.

What Remains of Edith Finch é um walking sim por definição, ou seja, uma aventura gráfica super ultra simplificada que consiste basicamente em andar pelo cenário e às vezes clicar em alguma coisa pra interagir. Não importa se formalmente ele é ou não é um jogo de videogame, se entra ou não numa definição cartesiana exata. Ele funciona como um jogo pra todos os fins práticos. Ele é uma história que só poderia ser contada pelas ferramentas fornecidas por jogos de videogame, porque só pode ser contada a partir da exploração do mundo e da paisagem oferecida ao jogador.

Desde o início você sabe como tudo acaba, a tela de pause deixa muito claro: você é Edith, a última sobrevivente da família Finch, voltando após a morte da sua mãe para a casa onde morou durante a infância, a fim de descobrir como cada membro da família morreu. Sua mãe passou a vida te negando as histórias da família, e agora chegou a hora de você descobrir essas histórias.

À medida que explora a casa e vai acessando novos cômodos, você descobre pequenos memoriais deixados ao longo das gerações por todos os membros, desde seu irmão que desapareceu aos 11 anos de idade ao avô que você nunca conheceu. Cada memorial, a vinheta de uma das mortes: um bebê de um ano que teve uma vida extremamente feliz apesar de curta, um viciado tentando lidar com a abstinência, e por aí vai até todas as histórias estarem contadas.

Todas as vinhetas são jogáveis. Todas as mortes são não só narradas, mas também vividas pela sua interação.

Toda a história da família Finch está impregnada pela morte desde que a casa foi construída e cabe agora a você, a caçula da última geração e a única sobrevivente depois da morte de sua bisavó e de sua mãe, descobrir essa história. Nesse sentido, What Remains of Edith Finch é uma história com começo, meio e fim. E como eu disse, uma que só poderia ser contada com tanta maestria por meio de um jogo de videogame.

Teve um geógrafo chamado Denis Cosgrove que ficou famoso por dizer que as paisagens humanas são um texto: nós deixamos nossas marcas na paisagem, e no futuro essas marcas contarão nossa história para as gerações seguintes. De forma que tanto as marcas deixadas quanto a interpretação dessas marcas estão inevitavelmente suscetíveis a todos os vícios e manias e visões de mundo tendenciosas que fazem parte da natureza humana. É algo intrínseco a qualquer texto e, portanto, a qualquer paisagem.

A casa dos Finch definitivamente funciona assim. Todas as marcas foram deixadas, desde seu trisavô até você. E agora que o tempo passou, chegou a hora de presenciar e interpretar.

Veredito: O ápice dos jogos retrô, absoluto e indiscutível.

A onda indie dos anos 2000 e 2010 trouxe jogos de orçamento relativamente baixo que são absolutamente incríveis, e que as grandes empresas da época jamais teriam coragem de fazer. Boa parte deles fortemente inspirados pelo Nintendinho, Mega Drive e Super Nintendo: Shovel Knight é maravilhoso, Super Meat Boy é excelente, Spark e Freedom Planet são ótimos também, Hollow Knight é simplesmente imaculado e perfeito... Só pra citar os mais óbvios.

Mas pra mim nenhum chega aos pés deste aqui.

The Messenger não é só "bom".

Super Mario Bros 3 é bom.
Donkey Kong Country é bom.
Dynamite Headdy é bom.

The Messenger é o suprassumo da foderosidade, é o topo do pico do cume da montanha voadora mais alta com uma escada infinita em cima, é um jogo que acontece quando você pega o orgasmo mais intenso do sexo mais gostoso com a pessoa mais tesuda que você conhecer e mistura esse orgasmo com um puta sorvetão enorme de amarena em cima e menta em baixo, com cobertura de chocolate e paçoca no topo. É churrasco na praia com os seus melhores amigos, a galera mais divertida e alto-astral, o queijo coalho mais bem preparado com a cerveja mais gelada, a água do mar limpinha com as ondas mais intensas pra tomar os tombos mais hilários, para depois todo mundo fazer um luau com marshmallow e rir juntos no fim do dia.

The Messenger é um jogo de ação e plataforma 2D simplesmente FODA. Tudo nele é FODA. A história é hilária e mindblowing ao mesmo tempo, os diálogos são mais bem escritos que os melhores livros de comédia/filosofia, as mecânicas e as fases são mais bem polidas que a superfície do carro do Ayrton Senna, a tradução pt-BR é simplesmente a melhor que já vi na vida, o mundo é absurdamente bem construído e amarrado. A música de The Messenger MEU DEUS A MÚSICA DE THE MESSENGER não é deste mundo, eu me recuso a acreditar que um chiptune tão absurdo e perfeito foi composto por um ser humano terráqueo.

Cara, CADÊ O DEFEITO DESTE JOGO????

Você até pode não gostar de The Messenger, é seu direito. Assim como você pode não gostar de sorvete. Tudo bem, você tem todo o direito de estar errado. E eu hei de defender esse direito seu até a minha morte!
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PS: Me pergunto se alguém que não me conhece vai ler esse último parágrafo e achar que falei sério. XD

Veredito: muito, mas muito bom mesmo, e apesar disso espero que a Nintendo nunca mais faça algo assim de novo.

Zelda: Breath of the Wild lançou em 2017 e é um dos melhores jogos que já joguei. É o típico caso de um jogo cheio de problemas, PRINCIPALMENTE de escopo, mas que a gente perdoa por causa do nível ridículo de ambição do projeto, e pelo tanto de coisas que ele faz bem feitas. Tears of the Kingdom, que lançou em maio deste ano e que tou jogando praticamente sem parar desde então, é... bom, ele é Breath of the Wild 2.

Não é só uma continuação direta da trama, mas sim uma continuação direta, ponto. Pra todos os fins.

Deixando todo o fanatismo da internet (contra e a favor do jogo) de lado, ele começou como uma expansão do Breath, que meio que foi ficando grande demais e acabou virando um jogo separado. E dá pra ver. As mecânicas básicas são as mesmas, a física é a mesma, o mapa é o mesmo, os povos são os mesmos, os colecionáveis são idênticos (prepare-se para mais shrines, koroks e fotos pro compêndio), quase todos os inimigos se repetem, inclusive minichefes, e você tem de novo 12+1 memórias pra coletar e 4 dungeons principais - que por sinal estão nos exatos mesmos lugares do jogo anterior - antes de encarar a dungeon final.

Mas tudo aqui é maior, é mais ambicioso ainda. É como se a equipe olhasse pro Breath e pensasse "É, até que ficou legalzinho, MAS AINDA NÃO FICOU BOM O BASTANTE, bora fazer de novo maior e melhor!" e daí foi lá e fez exatamente isso.

O mapa foi mais que duplicado: temos, além do mapa básico que é o mesmo do Breath, também o que seria um Dark World do ALttP/Lorule do Between Worlds/futuro do Ocarina, sem contar também várias ilhas voadoras no céu. As 4 habilidades básicas do Breath? Substituídas por 4 novas que não só fazem praticamente tudo o que dava pra fazer antes, mas transformam o mundo num verdadeiro parquinho. Sério, tem gente na internet construindo UM FODENDO METAL GEAR FUNCIONAL usando a Ultrahand e os zonai devices. O combate e travessia foram expandidos absurdamente com a Fuse e a Ascend. Poder arremessar materiais com as mãos e flechas faz Breath parecer um beta. Se você souber usar a criatividade, poder rebobinar os objetos com a Rewind trivializa combates e puzzles de forma brilhante. Essa é a chave do sucesso do Tears: ele te dá todas as ferramentas pra você transformar o mundo no seu baú de brinquedos, e fala:

- Seja feliz!!!!

E você é feliz, MUITO FELIZ... Por um tempo. Vamos falar logo dos tais problemas de escopo, pra eu poder voltar a elogiar o jogo.

Infelizmente todos os defeitos de Breath voltam. E com a ambição ainda maior do jogo novo, eles voltam SEM DÓ. Cedo ou tarde, chega uma hora que bate o cansaço do mundo aberto gigantesco, e bate PESADO. Depois de quase 300h brincando em Hyrule, 152 shrines, 120 lightroots, mais da metade dos koroks, quase todas as roupas/armaduras, de upar elas até mais da metade do que o jogo permite, pegar quase todos os tecidos de paraglider, ajudar o Addison com quase todas as plaquinhas, fazer todas as sidequests fora umas 10, encontrar todos os poços exceto 2, fazer todas as side-adventures, completar o compêndio com fotos de todas as armas, animais, monstros, chefes e minichefes, materiais e tesouros, raidar praticamente todas as cavernas e acampamentos inimigos, matar quase todos os minichefes... o jogo me fala que fiz pouco mais de 80% do conteúdo dele.

E sinceramente, tou bem cansado. Foi bom, foi gostoso, mas eu não aguento mais. O problema todo não é o jogo ser imenso. O problema é que, assim como Breath, ele NÃO TEM VARIEDADE SUFICIENTE que justifique o tamanho absurdo dele.

Os koroks? São 1000 no total, sendo que eles param de ser úteis (servem pra aumentar o espaço no inventário) depois dos 400 e poucos. Mas o pior mesmo é a repetição, porque só têm uns 20 jeitos diferentes de encontrar um korok. Então se prepare pra fazer os mesmíssimos mini-puzzles centenas de vezes, ou pra ser forçado a levar pouca arma e sofrer bastante na 2ª metade do jogo.

Shrines? São ótimos, certo? Afinal, são micro-dungeons que balanceiam bem o ritmo da exploração do jogo, além de te deixarem mais forte e servirem de pontos de teletransporte. Pois é, pena que se repetem demais. Vários são únicos, mas também existem 2 ou 3 tipos de shrine que o jogo recicla O TEMPO TODO sem vergonha nenhuma. Não aguentava mais entrar cheio de curiosidade num shrine inédito pra mim e ver que fiquei pelado MAIS UMA VEZ. Chegou uma hora que eu tava o próprio meme do C.J. pensando "ai, merda, lá vamos nós de novo".

Side-quests? Menos de 10 valem a pena. E o jogo deve ter algumas centenas. Minichefes? Todos os 6 são excelentes, sendo 3 chupinhados do Breath. E se prepare pra enfrentar todos umas 500 vezes. Encarar um frox pela zilhonésima vez não é legal, NÃO IMPORTA o quanto froxes sejam inimigos bem projetados.

Têm muitos e muitos outros exemplos, mas acho que deu pra entender. Zelda precisava ter cozinhado muito, mas MUITO mais variedade dentro das mesmas ideias antes de sair do forno. Todos os shrines, koroks, minichefes etc precisavam ser únicos. Não tem jeito de contornar isso: ele é vítima do próprio escopo, e você vai cansar.

Pra piorar, com as ideias novas vieram também novos problemas. A física excelente foi refinada e melhorada graças aos zonai devices, mas a câmera ficou um lixo. O jogo lá pelas tantas coloca companions opcionais pra lutarem ao seu lado, mas não tem outro jeito de falar isso: a IA deles é uma MERDA e você constantemente vai desligar os companions de propósito só pra eles pararem de te atrapalhar. A história em geral é muito melhor, mas ela agora vai completamente contra a ideia de mundo aberto, além de ter um milhão de buracos. Sério, todo mundo que eu conheço sacou bem no comecinho qual era o grande plot twist do final. E a dissonância ludonarrativa vem com força. É extremamente irritante eu estar com a Espada Mestra pendurada nas costas e saber exatamente onde está a Zelda - porque o jogo já mostrou explicitamente isso pro Link numa cutscene - e mesmo assim todos os personagens NÃO PARAREM DE FALAR que eu preciso encontrar a princesa e pegar a espada. Não dá pra perdoar o quanto TODOS OS PERSONAGENS INCLUSIVE O LINK precisam ser completamente idiotas e tapados só pela conveniência do roteiro.

Mas apesar de tudo... a história realmente é muito melhor, e isso porque a do Breath já era ótima. O vilão agora é um personagem de verdade e bem completinho. A Espada Mestra tem um arco super interessante entre a introdução e a batalha final. O rei de Hyrule tem profundidade, motivações, relacionamentos reais. A princesa Zelda é alguém com medos e esperanças muito acreditáveis, mais ainda do que era no Breath, onde ela já era uma personagem ótima.

E por mais que o jogo tenha problemas indesculpáveis de escopo, não dá pra negar que isso foi em troca de um mundo aberto muito bem feito e de uma missão principal divertida e mega épica. Por mais que os shrines repetidos sejam um saco, os shrines únicos são muito, mas muito bons mesmo, e em todos os casos IR ATÉ O SHRINE é sempre uma delícia. Ir até qualquer lugar é uma delícia. O fato de serem só 4 dungeons incomoda DE NOVO (tanto Tears como Breath precisavam de NO MÍNIMO umas 10), mas elas são bem melhores do que as 4 de antes, e os chefes são todos incríveis.

Acaba não incomodando taaaaaanto assim quando você encontra um acampamento inimigo que não vai te recompensar com nada interessante, porque o ato em si de encontrar e raidar o acampamento foi bom.

- Agora vou de Lookout Landing pra Vila Kakariko e depois pro pico do Monte Lanayru.
[após um "pequeno" desvio de rota e depois de mais de 2h, vários shrines e koroks e minichefes e poços e cavernas aleatórias]
- ...pra onde eu tava indo mesmo? Eu tinha alguma coisa pra fazer em um lugar específico, não tinha?

E essa sensação é maravilhosa.

Tears pega a base do Breath e leva até a conclusão lógica do que era pra ser uma DLC que cresceu demais: ficou ainda maior, ainda mais parrudo, ainda mais ambicioso. E vou falar que eu gostei MUITO do resultado final. Problemas e tudo.

Duvido que eu fosse conseguir tankar um Breath 3. Depois de tankar o 2, preciso dar um tempo de jogos que exigem jornadas imensas antes de poder zerar. Acho que preciso de um descanso de jogos, na real, vou ali ler um Sherlock Holmes, um Harry Potter, um Pedro Bandeira, sei lá. Foi muito exaustivo, e espero de verdade que o próximo Zelda não seja tão derivativo quanto este aqui foi, porque aí realmente não vai dar pra defender. O 1 foi bom, o 2 foi melhor ainda e conseguiu segurar as pontas mesmo com tanta coisa igual... mas um 3 vai ser inviável. Tá na hora de criar coisas novas usando a mesma fórmula, como Zelda sempre fez, e não ficar só repetindo a fórmula e achando que já tá bom. Mas se eu disser que não gostei, que essas quase 300h não foram MUITO BEM GASTAS e que eu não tava MUITO FELIZ durante elas, porra, isso seria uma mentira deslavada.

PS: Esqueci de comentar na review, mas esse jogo é um milagre técnico. Ele conseguir EM ABSOLUTO rodar no Switch já é bruxaria por si só. Ele rodar em 30 quadros por segundo quase que cravados, com aquele tanto de coisa na tela, especialmente quando você tá voando por aí numa motoca aérea? E isso num tablet que já lançou obsoleto mais de 6 anos antes? Pura magia negra. Não tem outra explicação.

Veredito: Mais um coletaton delícia.

A Hat in Time é mais um daqueles jogos super maneiros que não são MEU DEUS DO CÉU QUE PUTA OBRA FODONA, VENHA COMER MEU CU mas tudo bem, não precisa ser. Ele é só um jogo bastante delicinha e feito com muito carinho. E isso basta.

É bem óbvia a inspiração nos coletatons do N64, Cube, PS1 e PS2: um plataforma de explorar a fase e caçar colecionáveis. Os mundos são coloridos, a exploração é recompensadora, as habilidades fluem bem e são bem utilizadas nas fases e nas missões (muito gostoso correr na parede e mergulhar no meio do pulo), e os personagens são bastante caricatos, hilários e expressivos. Não é perfeito, mas de novo: tudo bem, não precisa ser.

Já vi gente reclamando da curta duração. Pra mim ele tem o tempo exato que é pra ter: o tempo de explorar todas as mecânicas e ser gostoso do começo ao fim. Ele poderia ser maior? Poderia. Mas se for pra esticar artificialmente um jogo, com gordura mal feita só pra dizer que é longo... Deixa o jogo ser curto mesmo. Fica mais rejogável assim.

Aliás, parabéns pra Gears for Breakfast pelo EXCELENTE suporte a mods. Nada de ficar instalando eles no braço lá da oficina da Steam, ou pior: baixando de um Nexus da vida e procurando online guias complicados de instalação. Você entra na sala do hub dedicada a isso, fala com o personagem de lá e pronto: é só escolher o mod que você quer jogar.

Dito e feito: depois de zerar, perdi várias horas me divertindo com o que a comunidade já criou. Joguei dois time rifts, uma fase super caprichadíssima baseada em Celeste, e um projeto ambicioso que por enquanto só tem a 1ª fase com uma área secreta. E isso não foi praticamente nada, é só a ponta do iceberg, se eu quisesse tava jogando mod até agora e ainda por muitos dias a fio.

E pessoal ainda vem reclamar que o jogo devia ter mais conteúdo?

Veredito: Maduro e fácil de empatizar, mas todas as rotas são iguais.

Tematicamente, Catherine é exatamente o que eu esperava. Não um jogo erótico, não um hentaizão cheio de sexo, e sim um jogo sobre sexo. Um jogo sobre relacionamentos românticos, sexuais, e tudo o que existe entre essas duas coisas. O visual e todo o estilo do jogo puxam MUITO pro erotismo e romantismo, mas nunca como um pornô, e sim como algo importante pra ajudar a dar o recado.

Todo mundo já sabe a premissa: você é Vincent, está tendo problemas no seu namoro e, quando se dá conta, acorda pelado na cama com uma mulher que acabou de conhecer. Você não se lembra de nada, mas ao que parece tu acabou de meter um chifre na sua namorada de longa data. A partir daí você que se vire pra lidar com a situação.

O dia é praticamente uma visual novel: você conversa com seus amigos, vai pro bar, recebe nudes da sua amante e ligações da sua namorada, e decide o que fazer em cada situação. De noite, você e vários desconhecidos compartilham do mesmo pesadelo: tem que escalar uma torre enorme, e quem cair não acorda mais vivo. Pense num plataforma de labirinto a la Donkey Kong clássico ou Pushmo, só que muito mais complexo e com um limite de tempo no seu pescoço, pronto pra te guilhotinar no menor errinho.

Ao mesmo tempo que não passa pano pro adultério (o texto deixa bem claro que os homens no pesadelo são pessoas horríveis que estão pagando por isso, inclusive você, que fica procurando desculpas pra não resolver o problema que criou) o roteiro se preocupa em mostrar várias outras facetas do problema.

Catherine, que você conhece no bar e que te leva pra cama, não sabe que está sendo uma amante. Katherine, sua namorada, não tem te tratado nada bem ultimamente e não tem facilitado sua vida, chegando a dizer que ela é que vai cuidar da sua conta bancária. Rin, que você conhece logo antes do jogo começar, faz o que pode para ser uma boa pessoa e para ajudar os outros, apesar de estar ela mesma cheia de problemas.

Existe um ótimo trabalho aqui para desenvolver as personagens. Ao longo do jogo você vai vendo como o namoro de Vincent foi amadurecendo e depois desmoronando, como tanto Catherine quanto Katherine lidam com os comportamentos estranhos do rapaz, como Rin vai se recuperando da amnésia que está sofrendo. Todos os homens no pesadelo passam por sentimentos pesados de culpa, e Vincent faz o máximo para ensinar eles a escalar para sobreviver mais uma noite. E se esforça pra aprender a ser uma pessoa melhor a partir dos próprios erros e dos erros dos colegas.

Minha única crítica é que as rotas são uma ilusão muito frágil: basta rejogar. Ao invés de te dar uma única escolha direta, o jogo te dá um milhão de pequenas escolhas que vão preenchendo uma barrinha, e essa barrinha em tese determina o rumo da história e eventualmente o final. Mas as diferenças são ínfimas. Você pode fazer de tudo pra terminar o seu namoro, ou fazer de tudo pra salvar ele, e meio que tanto faz. Os diálogos nunca mudam nada, os cenários vão ser sempre os mesmos. Isso não seria um problema se o jogo não fizesse tanta questão de enfatizar "cuidado com as suas escolhas, heim, elas afetam a história". Afetam porra nenhuma. Tá, o final muda, mas é só isso.

2021

Veredito: bonito e íntimo pra caralho, e janky até o talo.

Já digo logo que sou suspeito pra falar de Sable. Eu curto demais cel-shade, adoro jogos contemplativos, sou platinador por natureza e tenho uma queda ENORME por histórias sobre amadurecimento e sobre a chegada da vida adulta. Sable tem tudo isso, ele mira em cheio nos meus pontos fracos. Então talvez seja prudente você ler esta análise com um pé atrás. O que eu falar corre altos riscos de ser tendencioso pra caralho, e muito diferente do que vai ser quando você jogar.

Também tenho uma tolerância meio exagerada a "defeitos técnicos". Sable é recheado deles: a colisão é estranha, a câmera é uma merda, a taxa de quadros não pára quieta um minuto (tá tudo fluindo bem e aí do nada você tá jogando uma apresentação do Powerpoint, e vice-versa) e a física é toda esquisita. Tudo é bugado demais, defeituoso demais, os controles nem sempre obedecem, parece que nada funciona direito.

Mas é nessas horas que eu dou graças pela minha tolerância a isso. Faltou sim uma testagem e uma programação mais caprichadas. Mas sobrou visão artística e carinho dos criadores pela obra.

Você é Sable, uma adolescente dos nômades Ibex, um dos muitos clãs do planeta desértico de Midden. Seguindo o costume do seu clã, você está prestes a começar a "plainagem", o Avoo, um rito de passagem para largar a infância pra trás e entrar na adultisse. Você deixará seu lar, família e amigos e vai viajar o mundo conhecendo todos os lugares que puder, todos os costumes que quiser, todos os conhecimentos e sabedorias que couberem na sua maturidade. A partir daí... você é livre pra ir aonde seu coração desejar.

Sable não tem combate. Não existe barra de vida, não tem o medo de dar game over e precisar voltar. Só existe a exploração, e o mundo a ser conhecido. Midden é enorme e tudo é um deserto, mas não falta variedade e beleza. Das paisagens salinas e abandonadas dos Lixões Sódicos ao oásis perto da metrópole de Eccria, passando por cavernas de insetos luminosos e um ninho de um besouro gigante, existe muita coisa pra se ver. Os cartógrafos, isolados em seus balões, são mais do que vendedores de mapas: eles são personagens próprios, com personalidades próprias, que te contam histórias sobre o que tem de interessante nessa ou naquela região, e pra isso você precisa achar algum caminho até o lugar alto onde eles se encontram.

Essa é a essência da jogabilidade de Sable: explorar o mundo e conhecer os personagens. Tudo é uma missãozinha no menu, tudo é fazer favores para outras pessoas em troca de recompensas: resgatar Fulano que machucou o pé e ficou preso, interrogar suspeitos e achar um culpado pela sabotagem do sistema de energia, brincar com um grupo de crianças, pegar tal coisa em tal lugar e levar para Beltrano. Nem dá pra esconder a influência descarada de Zelda Breath of the Wild: escalar, planar, barra de stamina, viagens longas.

Mas ao contrário do se espera dos jogos de mundo aberto, todas as quests voltam ao ponto central do jogo: descobrir seu lugar no mundo. Encontrar sua vocação. Aproveitar a jornada. Descobrir que tipo de ser humano você quer ser.

Alguma hora o seu Avoo vai ter que acabar, alguma hora você vai ter que concluir o rito de passagem e voltar ao seu clã como mulher adulta. Você pode pedir ajuda, orientação, fazer perguntas, mas não dá pra prolongar para sempre a busca pelas respostas. E tudo bem. Nenhuma adulta tem todas as respostas, ninguém vira uma pessoa 100% sábia e crescida só porque deixou a infância pra trás. Você não precisa ser a primeira.

Sable não é um jogo sobre o quanto os adultos são sempre maduros e responsáveis. Não é sobre ganhar algum tipo de conhecimento fodão que as crianças e adolescentes não têm. É sobre uma jornada íntima, pessoal e intransferível que todos nós fazemos. E é sobre entender que isso é normal. Crescer é normal, conhecer pessoas diferentes e expandir a nossa visão de mundo é normal, sair do ninho é normal. Pode até parecer solitário, assustador e perigoso, e algumas vezes é mesmo. Mas enquanto você estiver seguindo seu próprio caminho - mesmo que não tenha certeza dele, mesmo que se sinta insegura - você está no caminho certo. Você pode errar, você pode mudar de rumo, você pode se arrepender. Tudo bem, isso faz parte da vida. Não importa qual caminho você escolhe. O que importa é que seja seu.

Veredito: não, ele não supera Chrono Trigger, mas é bom PRA CARALHO!

Não entendi muitas das críticas que vi pra este jogo aqui no site. Os personagens são todos bons (sim, inclusive os protagonistas, que convencem muito bem no seu papel de irmãos e de heróis), o sistema de batalha é ÓTIMO, e a história é maravilhosa.

Minhas críticas são outras, principalmente de polimento (às vezes era difícil batalhar bem, por exemplo porque algum personagem saía da tela no movimento de ataque) e de ritmo (dava pra cortar algumas horas da partida e nada de valor seria perdido, desnecessário por exemplo aquele começo grandão) mas nada muito grosseiro.

Mas apesar dos visuais lindos, música fantástica e batalhas excelentes, o que mais me cativou na verdade foi a sinceridade e temas do roteiro. Foi o quanto Sea of Stars trata com respeito os relacionamentos entre os personagens.

Garl se esforça para ser um bom amigo e pra ver os outros felizes, mas ele não é só um ajudante genérico pra dar suporte aos heróis, nem um bonzinho tapado que é só coração e zero cérebro. A amizade entre ele e os irmãos protagonistas é sincera, e linda de se ver.

Os dois grandes alquimistas são tratados desde o início como a personificação do bem e do mal, mas à medida que vai conhecendo o universo do jogo e a relação entre os dois você descobre que o buraco é bem mais em baixo.

Os dois irmãos não querem derrotar o mal só porque eles são os heróis e pronto, nem caem no tropo dos heróis relutantes. Eles amadurecem, eles têm sentimentos, alegrias, medos, esperanças e motivações pra fazer o que fazem.

Temas como negação da realidade à sua frente, luto, empatia, necessidade de pedir ajuda e a importância de passar bons momentos junto das pessoas que amamos, da diversão pura e simples com os entes queridos, são tratados sem medo e de forma sincera.

No fim das contas, Sea of Stars é só um JRPG inspirado pelos clássicos do Super Nintendo e PlayStation 1. Pessoalmente ele não mudou minha vida, não me ajudou a lidar com nenhum trauma, não foi nada de outro mundo. Ele tem defeitos como todo jogo.

Mas é um puta JRPG fodão pra caralho, e tenho certeza que vou rejogar ele um dia.

Veredito: O meu jogo mais formativo, que sempre vou amar por isso.

Tenho muita coisa pra dizer de Sonic Adventure 2, dos defeitos e qualidades, mas vou me segurar. Hoje só vou falar de um pedaço do que ele fez por mim, e este texto já vai ficar enorme só com isso. Tá avisada a dose CAVALAR de nostalgia.

Conheci Sonic Adventure 2 no final da infância/começo da adolescência. Foi paixão desde o 1º "aperte start", e até hoje amo DEMAIS este pedaço jogável da cultura humana. É muito pouco dizer que ele foi formativo pra mim, pra minha personalidade e visão de mundo. Desde a 1ª zerada ele me acerta tão em cheio, e tão fundo, que no duro: jogar ele hoje é um exercício delicioso de auto-conhecimento.

Minha adolescência, como provavelmente a da maioria de vocês, foi um divisor de águas. E este jogo foi um dos motivos.

Sonic Adventure 2 é o "aquele jogo pra mim" do Marcelo, do CDX.

(Inclusive peço desculpas se esta análise parecer que tou falando mais de mim do que dele, mas o assunto é "jogo formativo" e aí não dá pra separar Sonic Adventure 2 da formação que tive com este jogo.)

Eu gosto de muita coisa. Gosto de fazer a coisa certa não pra ser certinho, inclusive na época os adultos em volta me viam como o respondão metido a rebelde. E sim porque, cara, pra que eu vou fazer merda - ou fingir que não tou vendo a merda - se tenho outra escolha? Só pra "não parecer politicamente correto"? Pra ter orgulho de ser cuzão?

Como quase todo mundo que teve uma criação saudável, eu gosto de me divertir. Tipo, gosto PRA CARALHO de me divertir. Tenho fama de ser um moleque de 5 anos num corpo de adulto barbado. Dentre outros motivos, porque eu gosto muito de brincar. Até hoje se estiver podendo na hora e me chamam prum pique-pega, aceito FELIZÃO. Pena que quase ninguém chama adultos pra brincar de pique-pega.

Entendo a importância de respeitar a lei, não sou alérgico a regulamentos. Mas detesto regras idiotas. Especialmente regras sociais vazias. Coisas que uma turma impõe sem nem saber explicar qual o bem que essa regra supostamente deveria estar fazendo, mas tem que obrigar geral a seguir cegamente. Aquelas regras que uma galera cria e enfia goela abaixo dos outros 100% na filosofia "o certo é ser igual a mim" só porque não tem a boa vontade de sentar e conversar, não quer bater um papo franco, aberto e respeitoso pra alimentar um convívio bacana. Que é só pra se sentirem acima do resto, e ficam ofendidinhas quando não são tratadas como o alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado. Tipo... Com todo o respeito, foda-se, tá ligado? Eu sigo o "viva e deixe viver". Deixa as pessoas serem felizes. Se não estiver fazendo merda, só seja livre e faz o que tu quiser, sem culpa. Toca o barco e segue o baile.

Gosto de simplicidade, mesmo que muitas vezes complique demais as coisas sem precisar. Na infância e adolescência eu fazia isso bem menos. Em parte porque não soube envelhecer, em parte porque nem sempre controlo minha empolgação e fico forçando explicações super detalhadas fora de hora, e em parte por problemas de saúde que me atrapalham nisso. Mas sempre é sem querer, e pra ser justo comigo mesmo não é o tempo todo. Quando eu não faço isso, sou muito feliz, e estou constantemente tentanto não fazer.

Também sou otimista incorrigível. Sempre dou um jeito de acreditar que as coisas podem dar certo, sempre acho que vale a pena tentar, que é só tomar cuidado e cair pra dentro. E nessas horas, de alguma forma tenho uma capacidade enorme de convencer os outros. Nem a depressão conseguiu tirar isso de mim. Sei lá, vai ver é porque sou teimoso também.

Sonic Adventure 2 é tudo que eu gosto de ser. Sonic ajudou a moldar meus gostos, minha personalidade, e o meu jeito de lidar com a vida. Duvido que fosse essa a intenção de muitos dos responsáveis por criar os sonics que cresci jogando - a maioria provavelmente só tava tentando fazer jogos maneiros - mas CAGUEI, IRMÃO. E ele não fez sozinho isso tudo comigo, óbvio. Tem toda uma história de vida pra explicar minha formação, Sonic nessa história é só uma franquia que eu curto muito. Mas os jogos dela são tudo isso que falei. E na minha vida, faz mais ou menos 20 anos, o Sonic Adventure 2 em específico é tudo isso LIGADO NA POTÊNCIA MÁXIMA!!!

Tipo... Sou cheio de defeitos, como todo mundo. Gosto de acreditar que sou mais sábio hoje do que quando adolescente, e em uma porrada de áreas com certeza sou, mas também sei que desaprendi muita coisa. Crescer sem desaprender a sabedoria da infância é uma das conquistas da vida. Uma que nem sempre consigo conquistar, justo por não ser nada perfeito. Mas sei que este jogo sempre vai estar aqui pra me ensinar de novo, entende? Como ele sempre me ensinou. Pra me ajudar, do jeito mais simples e divertido que eu conheço, a ser quem eu gosto de ser.

Sonic Adventure 2 tem um milhão de motivos pra estar junto de Sonic 3 & Knuckles no pódio de ser o jogo mais importante da minha vida. Mas este com certeza é um desses motivos.

Eu te amo, Sonic Adventure 2, com todas as minhas forças. Muito obrigado por tudo.

Veredito: Não tem defeitos, tem charme.

Acho que já faz quase 20 anos desde que joguei algo novo e caguei pros defeitos. Se teve outro jogo de lá pra cá que fez isso, esqueci. Mas Mirror's Edge conseguiu.

Eu adoro TUDO em Mirror's Edge. O visual branco, com um uso incrível do verde, azul, laranja e principalmente vermelho. A ambientação da cidade distópica policialesca que é vendida como utopia de paz e segurança. A história de conspirações politiqueiras, relações familiares, e corrupção tanto corporativa quanto no poder público. Os momentos de fuga, os de perseguição, e até os simples percursos até o objetivo; passando por tetos de prédios, canteiros de obras, corredores, estações de metrô e por aí vai. Os controles e mecânicas de plataforma em 1ª pessoa imitando parkour e sendo inseridos na ambientação e história do jogo.

E não só as mecânicas, mas o visual que mencionei também dialoga bem com a ambientação. A corrupção dialoga com as relações interpessoais. Os momentos de fuga funcionam porque as mecânicas de plataforma são ótimas. Eu poderia dar mais exemplos, mas deu pra entender: a coesão interna funciona muito bem. Nada está num vácuo, nada fica deslocado, nada parece ter sido feito ou colocado no jogo só como uma formalidade. Pelo menos nada que seja obrigatório.

Ele tem defeitos, claro, mas foda-se. Sei lá pra que servem os colecionáveis e desafios de speedrun mas foda-se, eles são legais de se fazer e não são obrigatórios. Falta polimento mas foda-se, se eu morrer é só recomeçar do último checkpoint. Nem sempre tá claro pra onde devo ir mas foda-se, tem um botão no controle só pra te apontar pro objetivo. O tutorial é meio chatinho mas foda-se, é rápido e opcional. Cara, não vou ficar dando bola pra essas coisas, só quero jogar Mirror's Edge e pronto. Eu gosto de videogame.

Pra mim é fácil curtir um jogo apesar dos defeitos. Mas normalmente é APESAR dos defeitos e não PASSANDO UM PANO DESCARADO pra eles. Não tiro a razão de quem desiste deste aqui antes de zerar, ou de quem acha que ele não é tudo isso. Mas eu acho, então deixa eu ser feliz.

Veredito: Vai direto pro pódio dos favoritos.

Eu gosto muito de falar sobre jogos, às vezes até mais do que gosto de jogá-los. Foram pouquíssimas as vezes que um jogo me deixou sem palavras, que hesitei em tentar explicar por que gostei dele, com medo de não fazer jus ao tamanho da foderosidade do que tinha acabado de jogar. Mas vou fazer um esforço aqui.

Outer Wilds é um jogo de exploração espacial - você é um astronauta alienígena conhecendo os planetas, luas e tals do seu sistema solar - mas é principalmente um jogo sobre o deslumbre com a descoberta. Sobre ir lá e ver o que tem depois da curva com seus próprios olhos, compreender como as coisas funcionam e ficar maravilhado com a sensação de 'ahá, agora eu entendi!'.

Ao mesmo tempo, é um jogo sobre sair da zona de conforto. Não só porque nunca joguei nada parecido antes, inclusive morrendo várias vezes até me acostumar com a física e controles esquisitos ('para onde fica a frente?' é o tipo de dúvida constante no começo) nem só porque ele jamais te pega pela mão: como disse o Errant Signal o jogo é uma via de mão única e jamais irá em sua direção, você é que tem que ter o trabalho de ir até ele. Mas porque você nunca vai resolver os puzzles e jamais vai entender a trama se não estiver disposto a pisar onde ninguém nunca pisou e ir onde você jamais iria normalmente. Pensar fora da caixa, ser curioso e querer de verdade entender o universo à sua volta são pré-requisitos pra se aproveitar Outer Wilds, tanto os puzzles e mecânicas quanto a história.

Antes da 1ª decolagem vários amigos da sua vizinhança te contam anetodas sobre o sistema solar: uma corrente marítima esquisita e criaturas assustadoras em um planeta, um colega astronauta que desapareceu, uma estátua e uma pedra que agem de um jeito que ninguém entende. Tudo pra te deixar intrigado e curioso pra explorar. Se a exploração pela exploração e a descoberta pela descoberta não te enchem os olhos, se na escola você não gostava daquela sensação de entender algo que não entendia antes, talvez passe algumas horinhas com Outer Wilds, enjoe e resolva ir jogar algo melhor. Mas se te atrai a ideia de descobrir o que aconteceu com povos e espécies extintas, compreender como funcionam tecnologias que antes eram confusas, e principalmente ter um envolvimento emocional com o mundo à sua volta a tal ponto que você vai ousar fazer coisas por ele que jamais ousaria antes... Garanto que a viagem vai ser inesquecível. ❤️

Veredito: A distopia MAIS GOOD VIBES que você vai jogar na vida.

Fiquei feliz de ficar surpreso com o quanto VA-11 HALL-A (além de ter um nome difícil pra caralho de escrever, pqp) era um jogo mega confortável. Tudo nele é aconchegante: sua casa, seus clientes, seu gato de estimação, os sites que você acessa em casa, seus clientes, o bar onde você trabalha, a trilha sonora, seus clientes, sua chefe, seu colega no emprego e seus clientes. Tudo tem uma vibe extremamente aconchegante e acolhedora, o que faz um contraste bem maneiro com o futuro distópico onde você se encontra.

Afinal, nanomáquinas estão matando pessoas, o governo e polícia são corruptos até o pescoço e vendidos para megacorporações sanguessugas, a violência urbana tá comendo solta e tu só está lá, preparando drinques e trocando ideias com o resto da população.

Já mencionei que seus clientes são amigáveis pra caralho? Alguns são lixos de pessoas e um pé no seu saco, mas até com esses você sente prazer em servir umas bebidas e bater um papo.

O que mais me surpreendeu na verdade é o quanto esse jogo é uma história cyberpunk mas ao mesmo tempo ele não parece uma, não dá a sensação de uma. Pra ser sincero, dá a sensação de um slice-of-life. Todas as histórias dos clientes são mundanas, banais, corriqueiras.

Uma estagiária reclamando do chefe bosta. Uma amiga programadora comentando como deu errado o último encontro dela com um peguete. Ir brincar de Verdade Ou Consequência na festa de natal da firma. Uma bombeira que gostaria de ter uma aparência mais feminina, apesar do corpo musculoso. Pessoas comuns, com dramas comuns envolvendo os respectivos empregos, estudos, vidas amorosas e sexuais, problemas de relacionamento com familiares e amigos. Inclusive o texto não tem medo de tocar em temas pesados e necessários, e o faz com muita maturidade, ao mesmo tempo que não tem medo de usar estética de anime e de rir de memes.

Tudo muito bem escrito e caprichado, principalmente quando a gente lembra que foi feito por meia dúzia de gatos pingados na Venezuela, que nem de longe é o país com mais investimento em videogames do planeta.

E essas coisas estão em meio a implantes mecânicos cibernéticos avançados, cérebros conscientes e pró-ativos guardados em potes, cachorros falantes que abrem uma empresa própria, robôs que ganharam cidadania plena e mais um monte de treco que em tese não tem espaço nenhum num slice-of-life.

Se VA-11 HALL-A tem qualquer contra-indicação, é o fato de ser uma visual novel até o talo, sem vergonha nenhuma. Você vai ler muito, mas muito, mas MUITO texto. A jogabilidade se resume a conseguir preparar as bebidas certas com os ingredientes certos, a lembrar do que cada cliente gosta, e a ter dinheiro quando chega uma conta pra pagar em débito automático.

Mas as punições são irrisórias: prepare a bebida errada e você não recebe bônus extra no fim do expediente, fique sem dinheiro pra pagar a luz e sua casa fica no escuro. É pra dar um quê de jogabilidade, pra você ter algum nível de atenção necessária, mas é só isso.

Não é um defeito, com certeza, mas é algo que pode afastar quem não curte o gênero. Ou você aceita que vai basicamente ler texto pra caralho e preparar uns drinques, e que o jogo é só isso, daí senta e relaxa e curte a partida... ou não.

Pessoalmente, eu curti pra cacete.

Veredito: Não esperava que fosse ser tão bom.

Murder of Sonic é um mistério de assassinato para crianças: é fácil, os diálogos são infantis, e a influência mais óbvia que vejo é Ace Attorney. Ao mesmo tempo é um jogo do Sonic: o estilo visual é LINDO PRA CARALHO, e todos os personagens da franquia têm o carisma que trazem de outros jogos. Também é um spinoff de orçamento baixo: é curto, de graça, foi feito por poucas pessoas e relativamente desconhecidas, e não é um plataforma de velocidade.

O mais importante é que gostei dele mais do que esperava e que é o 1º spinoff de Sonic que cai nas graças da galera, pelo menos se for levar pelo meu círculo - quem eu sigo no Backloggd, comentários aleatórios que vi na internet e uns outros poucos fãs de Sonic que conheço. Fico feliz de ver que a comunidade está mais aberta a spinoffs da franquia.

Achei que fosse ser só um "pô, maneiro, mais um fã-game oficializado, e dessa vez é um spinoff zoando o 1º de abril" e recebi uma aventura gráfica de apontar-e-clicar bem gostosinha e cheia de amor pela franquia e personagens, com um final insanamente melhor do que eu podia imaginar.

Veredito: tão mediano que dói.

Ano passado comecei uma nova partida deste jogo porque precisava matar tempo, o 3DS tava na mochila e, pô, é Mario. Não tem muito erro, né?

No fundo, eu sabia que tinha. Já zerei ele pelo menos 2 vezes antes, e num canto escondido do meu cérebro tinha uma memória abandonada do TANTO que New Mario era sem sal. Mesmo assim eu insisti, persisti, fui teimoso, mas não dá não. Depois de platinar metade dele, tou jogando a toalha.

Ele não faz nada exatamente errado. Ele só é... aguado. Sem graça. Sem gosto. Ele é mediano, muito mediano, mediano até a medula. Mas Mario não tem o direito de ser mediano, pelo menos não pra mim, muito menos ESTE AQUI.

É difícil explicar pra quem não frequentava a internet em meios dos anos 2000, quando "New Super Mario Bros" não era toda uma franquia que vende horrores. Mas na época a expectativa que ele causou foi ABSURDA. O último grande Super Mario 2D à moda antiga tinha sido o World, láááá no lançamento do Super Nintendo uns 15 anos antes. E aí agora vocês tão me dizendo que vamos jogar Mario em 2D de novo, com poderzinhos, fases e mundos, e ainda por cima com habilidades trazidas também dos jogos 3D? E na palma da minha mão?!?!?!

PORRA, TINHA TUDO PRA SER FODA!!!!!

E o resultado final foi... isto aqui.

Respeito quem tem nostalgia por ele, mas infelizmente as memórias que ele me traz são as de todo um hype despedaçado sem dó nem piedade. Mario é pra ser incrível, é pra ser fantástico, ele não tem o direito de ser mais ou menos. E quando vocês dizem que este é um dos melhores da série New, só reforça ainda mais minha vontade de ficar longe dela.